O caminho para o enfrentamento da criminalidade brasileira está diretamente ligado à inteligência com a qual olhamos para o nosso território continental. São muitos problemas, alguns particulares por região e que precisam de cuidados e por meio da aplicação de recursos específicos, mesmo que as grandes facções atuem nacionalmente.
Quando olhamos para os dados recentes pelo Anuário Brasileiro de Segurança Pública, das dez cidades mais violentas do Brasil em 2023, sete estão situadas no Nordeste, sendo que seis estão na Bahia. Feira de Santana, inclusive, aparece na 19ª posição no ranking de cidades mais violentas do mundo, segundo a ONG mexicana Conselho Cidadão para a Segurança Pública e a Justiça Penal. É a cidade brasileira com a colocação mais alta neste estudo, com a taxa de 58.69 homicídios por 100 mil habitantes.
E não é de hoje este cenário. As estatísticas já apontam a Bahia e o Nordeste com índices mais alarmantes de criminalidade há bastante tempo. E como estamos olhando para essa situação? Pelo jeito, não estamos.
Quando olhamos os dados do último trimestre (julho, agosto e setembro) levantados pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública, percebemos que tudo continua igual, apesar das quedas no número de mortes violentas no país na comparação com o mesmo período do ano passado. Nestes três meses, foram mais de 9 mil vítimas, sendo que mais de 1.600 estão no estado baiano, o primeiro colocado se compararmos com as outras unidades federativas.
Com esses números em mãos e dezenas de outros que somente os serviços de inteligência das polícias possuem é que a segurança pública deve ser pensada e financiada. Intensifica-se recursos nos locais mais violentos para, em curto prazo, diminuir essas taxas de criminalidade e posteriormente se pensar em políticas que analisem as ações a serem implementadas no Brasil como um todo.
E não é por falta de investimento que isso não é feito. Segundo o mesmo Anuário Brasileiro de Segurança Pública, em 2023 foram repassados R$ 137,9 bilhões para financiamento de políticas públicas para o setor. Um aumento de 4,9% em relação ao ano anterior.
É preciso agora criar um planejamento para que todo esse montante seja usado da melhor forma e destinado majoritariamente para as regiões mais afetadas. Não tem lógica os estados de São Paulo, Santa Catarina e Distrito Federal, que possuem as menores taxas de homicídio do país, receberam proporcionalmente igual à Bahia, Amapá e Pernambuco, que estão entre as unidades federativas com as maiores taxas de mortes violentas.
Enquanto não houver um olhar estratégico que entenda cada parte do Brasil e suas particularidades, não teremos uma evolução sustentável na segurança. Entender estes dados e como a criminalidade se desenvolve em cada região é fundamental e de extrema necessidade para vencermos essa guerra.
Recursos aplicados sem planejamento não resolvem na prática os problemas de segurança. Servem apenas para “enxugar o gelo” na luta contra os criminosos.
*Por Marco Antônio Barbosa é especialista em segurança e diretor da CAME do Brasil. Possui mestrado em administração de empresas, MBA em finanças e diversas pós-graduações nas áreas de marketing e negócios.