Apesar do Brasil contar, desde 2010, com diretrizes de metas e objetivos para pessoas físicas e jurídicas sobre o gerenciamento de resíduos, a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), apenas 76% do país tem coleta de lixo – e dos municípios cobertos, 51% ainda destinam os resíduos incorretamente, e apenas 3,9% do material coletado é reciclado. Esses dados alarmantes são do Índice de Sustentabilidade Urbana (ISLU), formulado pelo Sindicato Nacional de Empresas de Limpeza Urbana e pela PwC Brasil.
E o resultado são 2.707 aterros sanitários em pleno funcionamento e lançando cerca de 27 milhões de toneladas de CO2 por ano, volume representa 5% das emissões brasileiras, segundo levantamento realizado pela Orizon Valorização de Resíduos, empresa especializada em gestão de ecoparques.
Mas por que o síndico deve se preocupar com isso?
Porque o seu condômino tem a sustentabilidade como um dos principais temas da vida em sociedade, segundo pesquisa realizada pelo Ibope. O estudo apontou que 88% dos entrevistados no país consideram os cuidados com o meio ambiente uma de suas maiores preocupações. Porém, o pesquisa também mostra que 66% das pessoas ouvidas sabem pouco ou nada sobre coleta seletiva e reciclagem, e 76% admite não fazer qualquer separação de resíduos em suas residências.
Essa contradição mostra o que vemos na realidade: a prática sustentável é pouco incentivada. E esse GAP pode ser aproveitado pelos síndicos, implementando ações de tratamento adequado para os resíduos gerados, criando um diferencial em condomínios residenciais e comerciais que estão sob a sua administração.
Aposta no blockchain
Sempre que se ouve a palavra ‘blockchain’, o que vem à mente são as criptomoedas, mas, a tecnologia pode ser aplicada para além disso, dando mais transparência e segurança na gestão de informações e dados tanto de um condomínio quanto do tratamento de um lixo. “De forma muito simplificada podemos definir esta tecnologia como uma base de dados distribuída utilizando sofisticados mecanismos de criptografia e segurança de dados que a tornam inviolável. Desta forma, o blockchain além de ser registro de dados ele atesta veracidade”, explica o professor e Mestre em Sistemas Eletrônicos, Alex Oliveira, que também é coordenador adjunto do curso Análise de Desenvolvimento de Sistemas, modalidade EaD, na Faculdade Impacta.
Fala Especialista
Para te explicar como soluções essa tecnologia pode agregar nas ações de sustentabilidade do seu condomínio, conversamos com o consultor da Valid S/A, Marcio Lima, especialista em blockchain, Cryptography e IOT.
Como funciona a associação de blockchain e reciclagem?
Marcio Lima: Uma das aplicações do blockchain é a rastreabilidade de materiais recicláveis, por exemplo, garrafas de água mineral. Hoje a tecnologia blockchain é usada como um selo fiscal, mas nada impede que seja empregada para a reciclagem das garrafas.
Como os condomínios podem se beneficiar com esse serviço?
Marcio Lima: A tecnologia blockchain é uma máquina de confiança baseada na transparência, imutabilidade e descentralização que tem uma imensa aplicação na gestão na reciclagem dos resíduos dos condomínios.
Podemos considerar essa junção um serviço alinhado às cidades inteligentes?
Marcio Lima: Sem dúvida! A tecnologia blockchain é uma ferramenta poderosa para otimizar a coleta de resíduos recicláveis que resulta em um benefício imenso ao cidadão.
Soluções de blockchain
Ecochain
A joint venture, que nasceu da união da exchange FlowBTC, da startup de soluções de cidades inteligentes Ti2Ci e da consultora de gestão da inovação LF1, aplicou a tecnologia blockchain no programa de coleta seletiva de Santa Cruz da Esperança, cidade do interior de São Paulo, no qual troca material reciclável, em troca de um cupom chamado Moeda Verde – agora é uma criptomoeda – que é aceito pelo comércio local.
Através da Ecochain, os voluntários da coleta são cadastrados e ganham acesso a uma carteira digital para o recebimento dos créditos. Se o usuário não possuir smartphone, ele recebe um QR Code impresso e pode usá-lo para trocas no comércio – que aceita o pagamento para produtos da cesta básica e material escolar.
GreenPlat
A greentech utiliza o blockchain para rastrear o caminho correto do tratamento do lixo. O que resolve um grande problema do país: das 80 milhões de toneladas de resídos gerados por ano, 50% vai para locais de despejo ilegal.
Plataforma Verde
A startup utiliza a tecnologia blockchain para reunir todos os envolvidos na gestão de lixo na produção industrial e no comércio, em um sistema compartilhado e de corresponsabilidade.
Pela plataforma, é possível rastrear, de forma online, desde a geração até a destinação final dos resíduos. Por meio de um software que hospedado na nuvem, as empresas têm um canal de comunicação direto, fazem a gestão de todo o processo, geram relatórios e outras atividades para lidar com os resíduos.
reciChain
A startup age monitorando o progresso da cadeia de reciclagem, introduzindo as informações necessárias na blockchain para consulta rápida e descentralizada. Quando o material é reciclado, a empresa responsável recebe uma recompensa em tokens, que servem como comprovante de que a reciclagem realmente ocorreu.
A iniciativa é fruto da união, em prol de ações sustentáveis, da BASF, Natura, Braskem, Henbel, Bomix, Wise, Recicleiros e Triciclos.