Não falo isso pelos temas a serem debatidos, não se engane, pois eles muito me interessam, mas sim pela forma como eles são discutidos, pela natureza agressiva e desrespeitosa do debate. O que será que acontece com a paciência e a educação? Porque reuniões que deveriam ser harmoniosas geram tamanho desconforto?
Talvez seja o momento de repensar sobre as reuniões de condomínio para conseguirmos de fato aproveitar as inúmeras boas ideias que muitas pessoas têm sobre a vida social, mas acabam não participando das reuniões por causa das brigas, gritarias e xingamentos.
Também temos que refletir, que além do desgaste desses encontros, também há o depois. Encontrar as pessoas que nos faltaram com respeito no elevador não é uma boa maneira de começar o dia. Isso, quando os conflitos não extrapolam as barreiras de concreto para a vida pessoal.
Por exemplo, eu mesmo fui processado por um síndico por alteração da fachada do prédio. Minha culpa foi trocar uma esquadria corroída ao longo de quarenta anos por uma nova, que por ser limpa parecia diferente das restantes. Fui obrigado a participar da humilhante reunião em que ele contou a todos outros moradores como nós estávamos “fazendo algo errado”, além de nos multar, claro.
E embora nós tivéssemos a sustentação óbvia de que estávamos certos, muitos condôminos votaram contra nós. Por fim, vencemos na assembleia, e mesmo assim o síndico processou. Vencemos nos tribunais, nas duas instâncias em que o síndico em questão resolveu nos processar. E mesmo após o condomínio ser compelido a nos pagar por danos morais, eu confesso que não fiquei contente. Justamente porque seria obrigado a casualmente encontrá-lo e viver em sociedade.
O curioso é que até este fato, o síndico era um amigo, uma pessoa com quem interagimos com frequência. Desde então, eu nunca mais participei de nenhuma assembleia. Mas realmente precisa ser sempre uma experiência negativa?
Contrastando com isso, a dinâmica das assembleias de condomínio, muitas vezes marcada por embates diretos e pessoais, demonstra que ainda há espaço para incorporar a eficiência das práticas adotadas pelas SAs. A tecnologia pode ser a grande aliada nessa transição, permitindo a realização de pesquisas para entender melhor as preferências dos condôminos e, assim, antecipar conflitos ao levar em consideração suas visões e opiniões na elaboração de propostas.
Condomínios audaciosos podem estabelecer um padrão para a submissão de propostas. Certamente, todos conhecemos pessoas que lançam ideias sem considerar previamente os custos, as consequências ou as experiências de outros condomínios que já implementaram iniciativas semelhantes. Ao instaurar um sistema de formulários eletrônicos, com questões pertinentes à proposta a ser apresentada, criamos uma espécie de filtro inicial. Este filtro encoraja a pesquisa, a validação e, acima de tudo, a maturação da ideia, evitando que propostas mal formuladas consumam tempo desnecessariamente dos condóminos. Quando submetido, os condôminos terão ferramentas para avaliar de forma objetiva sem paixões e subjetivismo que geram conflitos desnecessários.
A modernização da comunicação condominial também passa por compartilhar apresentações, vídeos ou documentos para que os condôminos possam avaliá-los previamente. Além disso, a implementação de um sistema de votação eletrônica, acessível por meio de smartphones, tablets ou computadores, traria mais flexibilidade ao processo, permitindo a participação à distância e, assim, facilitando o engajamento dos condôminos de maneira mais pacífica e eficiente.
Essa abordagem, inspirada nas práticas de governança corporativa das SAs, tem potencial para transformar as assembleias de condomínio em espaços de decisão mais democráticos e harmoniosos. Ao implantar estas sugestões, creio que haverá mais colaboração por parte dos condôminos, teremos mais e melhores ideias, e poderemos melhorar a vida de nossas famílias e de nossos vizinhos. Acho que vale levar esta ideia para a próxima assembleia! O que você acha?
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*Por Daniel Schnaider é jornalista e CEO da Platform Capital, fundo de investimento especializado em Inteligência Artificial e Mobilidade. Aos 14 anos desenvolveu a plataforma de eCommerce utilizada no exterior pelos Correios e pela Pizza Hut, teve passagem pela 8200 – unidade de Inteligência Israelense, IBM e CEO no Brasil de uma multinacional voltada à IoT, Big Data e IA.