Uma tendência que tem se tornado mundial é a adoção de pets, por parte de casais, em vez de terem filhos. Essa tendência, inclusive, foi criticada pelo Papa Francisco em janeiro deste ano. Mesmo ainda polêmicos para parte da sociedade, o movimento e o mercado pet, que faz circular R$ 50 bilhões, não podem ser ignorados. Por isso, uma das novidades que as iniciativas pet friendly têm apresentado são os pet place.
Os pet place são, de forma resumida, parquinhos para que os animais de estimação, principalmente cachorros, possam ficar livres e brincar com segurança. Diversos estabelecimentos, como shoppings e condomínios, estão adotando esse tipo de espaço devido às semanas corridas por parte de diferentes famílias, promovendo maior integração e socialização, com maior segurança, entre os pets e os “pais de pets”.
O médico veterinário Abner Vinycius Barcelar de Carvalho, do Grupo de Serviços Veterinários Vet Popular, destaca a importância de uma rotina de exercícios, o que pode ser realizado com segurança nos pet places, para que os animais de estimação mantenham-se saudáveis, evitando problemas de saúde física e mentais.
“Realizar uma rotina de brincadeiras é sempre importante, atividades físicas são essenciais para o animal manter uma boa forma física, prevenindo doenças causadas pelo sobrepeso, além disso, ajuda a evitar que os pets desenvolvam outros problemas como por exemplo a ansiedade por estresse”, apontou o veterinário.
De acordo com a Radar Pet de 2020, pesquisa anual da Comissão de Animais de Companhia (Comac) do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para a Saúde Animal (Sindan), 37 milhões de domicílios brasileiros contam com pets, principalmente cães e gatos. Atualmente, em quantidade de animais domiciliares, o Brasil, que conta com cerca de 84 milhões de pets, só perde para os Estados Unidos, que têm uma população pet de mais de 135 milhões.
Aliado ao aumento da população pet em todo país, está a proximidade da relação dos humanos com os animais. Se anos atrás os termos mais comuns eram donos e animais de estimação, atualmente está se normalizando expressões como pais de pets e os filhos de quatro patas, por exemplo. A Radar Pet aponta que, enquanto menos pessoas enxergam os pets como bichos de estimação, mais pessoas estão os enxergando como filhos ou membro da família.
Para o psicólogo clínico e professor da Universidade de Guarulhos (UNG) Rodrigo Martins, a aproximação dos humanos com os animais não gera surpresa, e aponta que o número de membros nas famílias já têm sido reduzido ao longo dos anos, já sendo uma realidade. Somado a isso, Martins destaca, está a adoção dos animais de estimação por essas famílias que optam por não ter ou ter menos filhos, indicando um “caminho que dificilmente terá volta”.
“De uma forma geral, em nossa sociedade cada vez mais tem diminuído o número de membros nas famílias, sendo raros núcleos familiares com mais de 2 filhos. Dentro dessa nova configuração também tem aumentado o número de indivíduos que escolhem não ter filhos, sejam por razões econômicas, afetivas ou por simplesmente preferirem não ter filhos. Nesse contexto de famílias sem filhos, o desejo de companhia e cuidado pode ser substituído por um animal, seja ele cachorro, gato ou outros. Também acontece daqueles casais que optam por animais de estimação como forma de treinamento para um futuro filho, ou mesmo a substituição de um filho que agora já adulto, vai morar longe”, explica o psicólogo.
Conexão emocional
O desejo de companhia, citado por Rodrigo Martins, parece ter se concretizado ao longo da pandemia de coronavírus. Segundo a Radar Pet, as pessoas que moram sozinhas foram as que mais adquiriram cães ao longo do período de isolamento. Da mesma forma, os casais sem filhos foram os que mais adquiriram gatos durante o período. A pesquisa, inclusive, destaca que as pessoas que enxergam os pets como companhia contam com um percentual altíssimo entre aqueles que mais adquiriram cães ou gatos.
A importância dos animais como companheiros dos humanos é tão grande e reconhecida que tornou-se comum o termo Animal de Assistência Emocional (ESAN) – entre outras variações, como “apoio emocional” e “suporte emocional”. Estes animais, que vão desde cães até cavalos, só podem ser oficialmente considerados nessa função por médicos psiquiatras. No entanto, extraoficialmente, não é novidade que os pets oferecem conforto emocional para os seus donos.
“Tem se considerado cada vez mais a importância dos animais como apoio emocional, pois já é conhecido que a interação entre indivíduos e seus animais liberam neurotransmissores como dopamina e endorfina (prazer), ocitocina (afeto) e feniletilamina (um antidepressivo natural). Além da liberação de neurotransmissores, os animais também auxiliam pacientes com dificuldades em autocuidado devido a problemas emocionais, tais como depressão. Muitas vezes, o dono do animal não se sentiria motivado para levantar da cama sozinho e ir dar uma volta, mas, imaginar que seu animal precisa sair para passear, leva o indivíduo a levantar da cama, mesmo não querendo muito isso devido a doença”, destaca o psicólogo Rodrigo Martins.
No entanto, se por um lado a aproximação emocional com o animal pode gerar benefícios para diferentes pessoas, ela também gera um medo: o da perda. É sabido que os pets têm, normalmente, uma expectativa de vida mais curta do que a de humanos. Por isso, pessoas que têm pets ao longo da vida precisam, vez ou outra, lidar com a perda do animal, seja por doença, acidente ou velhice.
Os pets estão sujeitos aos mesmos riscos que outros tipos de animais e humanos. Questionado sobre a dor da perda, Martins esclarece que essa dor já é sentida ao perdermos pessoas queridas, destaca que não podemos “desmerecer a dor do outro apenas por imaginar que um animal de estimação não gere ligação emocional o suficiente para isso”, lembra que não há regras definidas para lidar com o luto, mas exemplifica alguns passos que podem ajudar a lidar com a perda:
- Aceite o luto: o sofrimento é real e não há motivos para esconder isso ou se envergonhar;
- Faça rituais de despedida: seja enterrar o animal, seja fazer um ato simbólico, rituais de despedidas ajudam a fechar o ciclo;
- Fale sobre isso: não esconda o luto imaginando que assim ele desaparecerá mais rápido;
- Siga em frente sem culpa: pensamentos de que poderia ter feito mais para salvar o animal são comuns, mas geralmente não condizem com a realidade;
- Procure ajuda profissional caso necessário: caso perceba que o luto está dificultando muito seu cotidiano, procure ajuda
Pet places invadem a cidade
Com uma ligação emocional tão grande e profunda, é normal que os pais de pets queiram passar mais tempo, e de melhor qualidade, com os seus filhos caninos e felinos. Além de brincarem em casa, quando há espaço, é indicado que haja uma rotina externa de exercícios, como passeios e brincadeiras ao ar livre, para que os animais não fiquem estressados ou privados de contato com outras espécies.
Dessa forma, os pet place têm ganhado espaço por toda a cidade, principalmente próximos a locais bastante populosos. Já não é incomum ver espaços para os pets sendo montados em praças, por exemplo. Em condomínios, a tendência também tem conquistado seguidores e se mostrando presente nos novos empreendimentos. Segundo um levantamento da Apê11 divulgado em novembro de 2021, desde abril de 2019 os pet places saíram de 0% para 27,57% de presença de novos condomínios cadastrados na plataforma.
Em franco crescimento, essa tendência já chegou até os shoppings de diferentes municípios do Brasil. Se, antes, já era normal ver animais de estimação andando pelos corredores desses empreendimentos, atualmente os shoppings têm dedicado um espaço exclusivo para que os pets possam brincar, socializar e serem felizes.
Um dos shoppings do Rio de Janeiro a seguir a onda pet friendly e criar um pet place foi o Shopping ParkJacarepaguá, inaugurado recentemente na zona oeste do Rio de Janeiro. Superintendente do empreendimento, Paulo Bittencourt explica que a intenção, com a criação do ParCão, como o pet place é chamado, foi de tornar o espaço mais “democrático”
“Nós pensamos no ParkJacarepaguá como um espaço multiuso, que pudesse integrar as necessidades dos clientes em um só lugar e o pet place se enquadra nesse quesito. Nada melhor do que ter uma área exclusiva para levar os pets para passear, na qual eles possam gastar energia, curtir os brinquedos e ainda socializar. Dentro do pet place, eles podem ficar à vontade para brincar, sem coleira. Já para entrar no shopping, é necessário que eles estejam na coleira. Eles só não são permitidos na praça de alimentação”, afirma Bittencourt.
Além de tornar o espaço mais democrático, os pet places em shoppings permitem que os donos de animais de estimação não precisem deixar os seus filhos caninos em casa, reduzindo a limitação de deslocamento. Isso, segundo Bittencourt, aumenta o fluxo de pessoas nos estabelecimentos comerciais do shopping, o que beneficia a todos.
“Quando diminuímos as restrições de acesso, atraímos um público cada vez maior e diversificado. Agora, ninguém precisa mais deixar seu pet em casa para resolver as coisas do dia a dia ou se divertir no shopping”, finalizou o superintendente.
Como montar um pet place
As vantagens do pet place são muitas, indo desde praticidade para os donos de animais de estimação até segurança, visto que é um local reservado, fechado e seguro para brincar com os pets sem a necessidade de caminhar ou correr em ruas movimentadas. Ademais, por, muitas vezes, tem brinquedos dedicados aos cães, os pet places auxiliam no desenvolvimento do animal, inclusive socialmente, por precisar conviver com outros animais.
Em um condomínio, o ganho, por vezes, é ainda maior. Isso porque, com um local dedicado para os animais gastarem energia, a tendência é de que os pets passem um tempo mais agradável dentro dos apartamentos, fazendo menos barulho.
No entanto, se um condomínio ainda não tem um pet place, como seria montar um? O médico veterinário Abner Vinycius Barcelar de Carvalho, do Grupo de Serviços Veterinários Vet Popular, esclarece que algumas normas devem ser estabelecidas antes de permitir a entrada de todos os pets.
O veterinário defende que a informação de qualidade é importante para que todos possam conviver em harmonia, assim como a aplicação de antipulgas, vermífugos e vacinas, para que seja evitada a transmissão de doença entre os animais.
“[É importante] definir um espaço amplo e fechado, adquirir equipamentos que sejam de fácil manutenção e que não ofereçam risco à saúde do animal. Não deve faltar um espaço específico para limpeza dos pets antes dos mesmos retornarem para casa. Em locais gramados, deve-se atentar às plantas que podem causar intoxicação nos pets, galhos, gravetos e objetos que os pets podem acabar engolindo, são coisas que não podem estar ali”, aponta.
A manutenção do espaço é a principal função do condomínio, que precisa cuidar e evitar que os produtos que ali estão sejam ou permaneçam danificados. Já por parte dos condôminos, além de cuidar da saúde do seu pet para que não ofereça risco aos outros, uma das principais funções é a limpeza, com o recolhimento dos dejetos dos animais.
Cuidados para se ter com os pets
“Ao adotar um pet, o tutor deve ter consciência de que o mesmo requer cuidados básicos relacionados à alimentação, higienização do ambiente, passeios, e realizar periodicamente check-up com o médico veterinário”, explica Barcelar de Carvalho.
Devido à pandemia, o interesse por adquirir um pet cresceu ainda mais no Brasil, segundo a pesquisa do Radar Pet. No entanto, ter um animal de estimação exige cuidado e atenção aos pequenos detalhes. Seja na busca da melhor ração para o animal, na procura pelo treinamento mais adequado ou dúvidas em geral, o tutor precisa estar atento, pesquisar, procurar veterinários e se informar de como proceder para proporcionar a melhor criação possível ao seu companheiro.
A cuidadora Leila Pinto, proprietária da Hospedagem & Creche Personal Pets, localizada em Vila Isabel, na zona norte do Rio, tem uma vasta experiência na área hoteleira para pets. Ao todo, já são sete anos trabalhando diretamente com animais de estimação. Para ela, além de levar ao veterinário para verificar possíveis vacinações, vermífugos e antipulgas, também é importante ter bastante paciência e dedicar locais específicos na casa ou no apartamento para que o pet faça as suas necessidades.
“[É importante] ter paciência na fase inicial, entendendo que cada pet carrega consigo uma história e, por isso, a fase de adaptação pode demorar algum tempo. Reserve um local da casa para ser o cantinho do seu pet, porque isso ajuda a criar referência e disciplina. Nesse local, você pode deixar a caminha, o tapete higiênico (no caso dos cães) e a caixinha de areia (no caso dos gatos) e algumas caixas organizadoras para não deixar as coisas do seu pet espalhadas pela casa (como brinquedos e acessórios). Converse com o veterinário e escolha a ração ideal para o seu pet de acordo com peso, idade e porte. Quanto melhor for a alimentação do seu pet, mais qualidade e expectativa de vida ele terá”, destaca Leila Pinto.
Não ter tempo para levar ao veterinário também não é mais uma desculpa válida para possíveis descasos com a saúde do animal. Além do atendimento a domicílio, também há clínicas móveis que, inclusive, podem fazer expediente em condomínios, desde que tudo seja acertado em assembleia e contrato entre as partes envolvidas. É o que explica o veterinário Abner Vinycius Barcelar de Carvalho, que trabalha em uma clínica móvel do Grupo de Serviços Veterinários Vet Popular.
“A clínica veterinária móvel dispõe de uma estrutura amplamente equipada para estar realizando os atendimentos de rotina, assim como aplicação de vacinas, desta forma, levamos praticidade e comodidade para os tutores. Este serviço é feito mediante o agendamento com a nossa central de atendimento”, aponta.
Outra preocupação que os donos de pets devem ter é, justamente, na hora de viajar. Com a expectativa de que a pandemia possa estar chegando ao fim, com o avanço da imunização por meio da vacina e a diminuição no número de mortes, muitas famílias se preparam para viajar. No entanto, os animais de estimação não podem mais servir como desculpas para que a viagem tenha percalços. Com o crescimento da onda pet friendly, cada vez mais locais aceitam pets de diferentes portes.
Para realizar viagens com os seus bichinhos de estimação, porém, alguns cuidados precisam ser tomados. De acordo com a cuidadora Leila Pinto, caso a viagem seja de carro, é imprescindível que o animal viaje no banco de trás, em uma caixa específica para transporte. Se for uma viagem longa, também é importante realizar algumas paradas na estrada para que o pet faça as suas necessidades.
“Outro cuidado importante: o animal não pode viajar de estômago cheio. A última refeição deve ser realizada três horas antes da viagem. Alguns animais enjoam na viagem, e isso é um péssimo sinal. Além do desconforto físico, o animal associará as viagens de carro a algo negativo. Também alimente o animal com comidas leves (frutas) e dê água durante o percurso. Já os apaixonados por gatos devem optar por uma caixa de transporte que seja firme, à prova de fugas e sem muitos furos laterais ou na traseira e forre com tapete higiênico para suas necessidades fisiológicas. Desta forma, o felino ficará menos nervoso durante o percurso. É importante entender que os gatos são conhecidos por não gostarem de mudanças” afirma Leila Pinto.
No entanto, caso a família não planeje levar o animal de estimação na viagem, há algumas outras opções, como a hospedagem em hotéis para pets ou a contratação de pet sitter, caso opte por deixar o animal dentro da própria casa, mantendo a sua rotina e convivendo em um ambiente no qual já esteja confortável. Dessa forma, o pet sitter ficará responsável pela alimentação do animal, higiene, limpeza do local e por realizar brincadeiras e exercícios com o pet.
Caso a opção seja por um hotel para pet, é importante que os donos do animal visite o local antes para se certificar de que o ambiente é seguro, confortável e higiênico. Ademais, alguns médicos veterinários indicam que é recomendável aplicar carrapaticida e antipulgas no animal para protegê-lo contra parasitas, além de atualizar a vacinação do pet.
“Repare no estado físico e emocional dos animais hospedados ali, avalie a carinha dos pets, se estão bem dispostos ou tristes, assim você terá certeza do tratamento que o hotel dispensa aos animais, e que o seu proprietário realmente gosta do que faz. […] Portanto, como visto, escolher um hotel de confiança e qualidade pode ser uma boa opção para você deixar o seu cão, uma vez que ele desfrutará também de verdadeiras férias e voltará para casa mais bem disposto e feliz”, finaliza a cuidadora Leila Pinto.