Nos últimos anos, tenho acompanhado de perto uma transformação silenciosa na forma como as pessoas consomem. E essa mudança não veio de grandes centros comerciais, e sim de algo muito mais próximo: os mercadinhos autônomos instalados dentro de condomínios.
A Associação Paulista de Supermercados (APAS) apontou que, em 2024, mais de 50% das novas aberturas do varejo em São Paulo foram de mercados de condomínio.
Inicialmente, a ideia de mercadinhos em condomínios era simples: aproximar a conveniência do dia a dia das pessoas. Mas o que observamos ao longo do tempo foi muito além disso. O que era só praticidade virou comportamento, rotina, hábito.
O consumidor de hoje não quer apenas comprar, ele quer resolver. E quer resolver no tempo dele. Essa autonomia transformou os minimercados de condomínio em um ponto de encontro entre necessidade e conveniência sem atrito, sem filas, sem deslocamento.
O perfil mais frequente dos clientes reflete justamente essa busca por fluidez: famílias, jovens profissionais, pessoas com rotinas intensas ou com horários pouco convencionais. Pessoas que não querem ajustar seu dia para ir ao mercado, mas sim integrar a compra ao próprio cotidiano.
Um levantamento feito pela inHouse Market mostrou que os picos de venda acontecem aos finais de semana, com destaque para os domingos. Isso revela muito: domingo é o dia em que as famílias estão em casa, quando o lazer acontece no próprio condomínio e quando pequenas reposições se tornam urgentes.
Outro momento de destaque é o pós seis horas da tarde. O consumidor chega do trabalho, percebe que acabou o leite, o pão, a bebida para relaxar, ou precisa de algum item para cozinhar. É aí que o modelo autônomo se mostra indispensável: rápido, disponível, seguro e ao lado de casa.
E os itens mais vendidos? Bebidas ainda lideram a lista, mas há um crescimento consistente de produtos práticos — comidas rápidas, itens de café da manhã, snacks e produtos de uso diário. A compra resolutiva, ao contrário da planejada, vem ganhando espaço.
O crescimento dos mercadinhos autônomos nestes locais não é moda, é resposta. Resposta a um consumidor que valoriza seu tempo e autonomia. Condôminos percebem a utilidade, síndicos observam a valorização imobiliária e empreendedores enxergam um modelo eficiente, escalável e de baixo atrito.
Se a última década foi de digitalização, a próxima será de proximidade. O varejo volta para perto e se integra ao cotidiano como serviço essencial.
Eu acredito que o futuro do consumo passa exatamente por isso: conveniência inteligente, tecnologia e proximidade real. E os mercados autônomos de condomínio são hoje um dos maiores símbolos dessa mudança.
* Leonardo de Ana é CEO e cofundador da InHouse Market, startup líder em tecnologia para minimercados autônomos 24/7 em condomínios e escritórios. Engenheiro da Computação pela Unicamp, Mestre em Gestão de TI (MSc) e MBA pela IU Kelley School of Business nos Estados Unidos, com mais de 15 anos de experiência internacional em startups de tecnologia e corporações Fortune 50, atuando em diferentes áreas de negócios em 6 países.
