O período do verão é tido como de alto risco na proliferação do Aedes aegypti, o mosquito transmissor de diferentes doenças como a Dengue, Zika e Chikungunya. O calor causa fortes chuvas, que podem facilitar o acúmulo de água, aumentando a chance de proliferação do mosquito. Devido a isso, é um momento que condôminos e síndicos precisam ter maior atenção com os cuidados básicos, que independem dos órgãos de saúde e vigilância sanitária.
No fim de 2021, o governo federal apresentou, em uma coletiva de imprensa, dados da Secretaria de Vigilância e Saúde (SVS) que demonstram queda de 46,6% no número de casos e óbitos de dengue em comparação com o ano de 2020. Enquanto em 2020, até novembro, foram registrados 927.060 casos, em 2021, no mesmo período, foram registrados 494.992.
No entanto, isso não significa que a população pode relaxar nos cuidados para combater a proliferação do Aedes aegypti. Segundo a InfoDengue, sistema de monitoramento de arboviroses desenvolvido por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e da Fundação Getulio Vargas (FGV), a região sul do país, além do noroeste de São Paulo, da região entre Goiânia (GO) e Palmas (TO), o Distrito Federal e outros municípios da Bahia e Ceará, encontram-se em estágio de atenção.
“Esses pontos de maior atenção podem ser um indicativo de um aumento de número de casos, sim. Por isso é necessário que, não só a população, mas o poder público em geral fique atento a esses locais possíveis de acúmulo de água. Conforme a gente tem um aumento de chuvas, a gente tem, como consequência, um aumento no número de criadouros. Isso, associado às altas temperaturas, acaba fazendo o cenário perfeito para a proliferação do mosquito. Então, é preciso estar atento para que a gente consiga tentar minimizar esse aumento do número de casos diante dessas condições ambientais favoráveis ao mosquito”, explicou a pesquisadora Rafaela Vieira Bruno, chefe do Laboratório de Biologia Molecular de Insetos do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz)
Diferentes medidas podem ser adotadas por síndicos e condôminos para combater o possível acúmulo de água nas áreas comuns e nos apartamentos. Entre as mais comuns, estão: verificar pequenos objetos, como pneus e vasos de planta, fechar bem poços, cisternas e caixas d’água, vistoriar frequentemente garrafas e lixeiras abertas. Ademais, o reforço da limpeza no condomínio também é uma opção viável para impedir não apenas a proliferação da dengue, como também de outras doenças.
“Em relação aos cuidados que as pessoas têm que ter para evitar a proliferação de mosquitos, é sempre observar, no seu entorno, dentro das suas casas, locais com possíveis acúmulos de água. Então, qualquer recipiente que seja capaz de acumular água, pode vir a ser um criadouro para a fêmea do Aedes aegypti”, apontou a pesquisadora.
Cuidados condominiais
“Em relação aos condomínios, eu acredito que isso possa ser uma ação conjunta entre os condôminos e a equipe de limpeza do prédio. Porque, em algumas áreas comuns, você nem sempre vai ter um condômino que vai ficar ali verificando. Mas, se a equipe de limpeza puder ser orientada para estar atenta a esses pontos, seria bastante interessante. Então, uma coisa que pode ser feita, por exemplo, é orientar a equipe de limpeza do prédio a olhar possíveis áreas que possam acumular água e fazer com que essas áreas sejam cuidadas ou eliminadas. Um outro ponto interessante que precisa ser visto é se o poço do elevador tem ainda aquele escape capaz de acumular água. Isso só quem tem acesso é a equipe do prédio, não os condôminos. Então, no caso de um grande condomínio, é uma ação conjunta entre os moradores, dentro das suas casas, a equipe de limpeza, vistoriando as áreas comuns, e os condôminos sempre podendo auxiliar nessa busca, nesse monitoramento das áreas comuns. Eu não acredito em uma ação isolada, eu acredito que tem que ser uma parceria entre os prédios e os moradores”, complementou a pesquisadora Rafaela Vieira Bruno
A ação conjunta é indicada pelas autoridades sanitárias como uma das melhores formas de combater a proliferação do mosquito da dengue. Entre as principais sugestões, estão as promoções de ações educativas no terreno dos condomínios, criando uma cultura constante de fiscalizar possíveis focos de Aedes aegypti.
Para o síndico profissional Julio Herold, dono da GH Gestão de Condomínio, a luta contra a dengue é diária, mas precisa ser intensificada nos períodos de maior risco, como o verão, quando se faz muito calor e chove com frequência. Segundo o gestor condominial, tanto o condomínio quanto os condôminos têm responsabilidade no combate à proliferação do mosquito da dengue.
“Referente à questão da dengue, entendo que a prevenção é o melhor caminho. Nos condomínios, especialmente quando iniciam os períodos de chuva, é reforçado com os funcionários para que fiquem especialmente atentos aos pontos de acúmulo de água. A piscina do condomínio tem de estar sempre limpa e tratada, e os reservatórios de água devidamente bem vedados. Não é descartado a aplicação de um sistema de fumacê nas áreas comuns quando se percebe um aumento de mosquitos. E, quanto aos condôminos, – são igualmente responsáveis por essa fiscalização – fazemos campanhas para que fiquem atentos dentro de casa, nas áreas comuns e, inclusive, nas imediações da vizinhança, quando eles têm uma visão privilegiada do alto”, finalizou.
Além das ações individuais e conjuntas promovidas pelos cidadãos, também é indicado por especialistas que as autoridades reforcem a limpeza urbana, promovam ações em escolas, invistam em saneamento básico, entre outras opções que podem reduzir o número de lugares de risco elevado.