A valorização do setor imobiliário como estratégia de blindagem patrimonial tem atraído investidores de diferentes perfis. No entanto, uma distinção conceitual frequentemente negligenciada pode comprometer a rentabilidade dos ativos: a diferença entre imóveis de alto padrão e imóveis de luxo.
O alerta é de Cézar Haik, empresário, corretor e fundador da ATrinca Real Estate, ecossistema com mais de R$ 3 bilhões em imóveis intermediados e responsável pela maior performance comercial da história da Cyrela. “Luxo é percepção, padrão é especificação técnica. Há muito imóvel de alto padrão sendo vendido como luxo, o que engana o comprador e frustra o investidor”, afirma.
Segundo Haik, enquanto o alto padrão se refere a critérios objetivos, como metragem, localização nobre, acabamentos e infraestrutura. Para ele, o luxo está ligado a atributos subjetivos, como exclusividade, design assinado e experiências personalizadas de moradia. “Um imóvel pode ter 200 metros quadrados, fachada de vidro e varanda gourmet, mas, se estiver em um bairro adensado, com vista comprometida ou sem diferenciais de exclusividade, é de alto padrão, não de luxo”, explica.
A confusão, de acordo com o especialista, se intensifica quando construtoras, corretores e plataformas digitais tratam os dois conceitos como sinônimos, afetando desde a precificação até a estratégia de marketing. “Quem busca luxo quer escassez, não metragem. E quem investe em alto padrão quer liquidez e valorização, não apenas estética”, resume.
Haik recomenda que compradores e investidores considerem três variáveis centrais antes de fechar negócio que é averiguar a vocação do ativo, o fluxo de caixa projetado e o potencial de valorização. “Quando o discurso não corresponde à entrega, o impacto recai sobre o retorno financeiro. E, nesse mercado, erros de posicionamento custam caro”, destaca.
O tema ganha relevância diante do cenário macroeconômico atual. Com a taxa Selic fixada em 15% ao ano, o maior patamar desde 2006, e a volatilidade cambial agravada por medidas protecionistas, como o tarifaço anunciado pelo ex-presidente Donald Trump sobre produtos brasileiros, os imóveis voltam a ser considerados porto seguro para o capital.
O índice FipeZap, que acompanha o preço médio de venda de imóveis residenciais em 50 cidades brasileiras, registrou valorização de 6,2% nos últimos 12 meses, superando a inflação do período. “Em contextos de instabilidade, o imóvel se mantém como o ativo que mais protege o patrimônio”, afirma Haik.
Para ele, o momento exige mudança de postura no setor. “O corretor que apenas negocia está ficando para trás. Hoje, é preciso construir autoridade e entender que vender é sobre posicionamento, não sobre produto.”
Essa abordagem orienta a atuação da ATrinca Real Estate, plataforma de aceleração de resultados para corretores, marcas e incorporadoras. O ecossistema, liderado por Haik em parceria com Flávio Augusto, Caio Carneiro e Joel Jota, realiza em 19 de agosto a ATrinca Real Estate Conference, evento considerado o maior do setor realizado em um único dia no Brasil.
“O mercado imobiliário não é uniforme. Existem imóveis para morar, para investir e para ostentar. Misturar essas categorias é o que gera ruído e não o mercado em si”, conclui Haik.