O Brasil possui cerca de 400 mil elevadores em operação para garantir a mobilidade de milhares de pessoas todos os dias. A fabricação e instalação desses equipamentos seguem normas que regem o setor, mas não existia no país, o reconhecimento de um organismo de avaliação da conformidade independente para atestar o nível adequado de qualidade e segurança dos elevadores fabricados no país.
Os primeiros certificados dessa natureza concedidos pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) à TK Elevator, fabricante de elevadores, alteram de forma substantiva essa situação. A empresa recebeu certificados para os elevadores evolution 200 e 300 e synergy 200 fabricados no Brasil para o mercado da América Latina, referendando que os produtos atendem às mais recentes normas técnicas.
“Para a TK Elevator, o processo evidencia que nossos elevadores certificados atendem a todos os requisitos normativos, desde o projeto até a instalação. Um programa inédito de qualidade que será disponibilizado ao mercado. Desta forma acreditamos que estamos contribuindo para elevar o patamar de segurança dos equipamentos de forma abrangente em nosso país”, afirma Eduardo Caram, head de novas instalações e modernização da TK Elevator para a América Latina.
Para o diretor de Certificação da ABNT, Antonio Carlos Oliveira Barros, a adoção do programa de certificação de elevadores representa um marco no mercado. “O elevador é um produto complexo que exige um programa de certificação à altura, e a emissão do primeiro certificado demonstra o preparo e a capacidade da ABNT em atender ao setor e atesta aos consumidores que os equipamentos foram avaliados por um organismo da mais alta credibilidade, atendendo aos requisitos estabelecidos em normas brasileiras e internacionais”, explica o diretor.
Ao buscar no mercado uma certificação voluntária, a TK Elevator contatou a ABNT para estruturar um programa estabelecendo critérios e avaliando que tipo de certificação seria mais adequada para o segmento. Definido o programa, o processo teve início em setembro de 2020, após a publicação da nova norma (ABNT NBR 16858-1:2021), que estabelece os requisitos de segurança e desempenho dos elevadores, em julho desse mesmo ano.
Os certificados concedidos à empresa diferem de outros documentos do gênero que são baseados apenas no teste de uma amostra. “A certificação que a ABNT conduziu atesta a gestão da qualidade para todo o produto, além das diferentes situações de operação que o equipamento é submetido quando em uso. Trata-se de algo bastante diferente do que se fazia anteriormente no Brasil e semelhante ao procedimento adotado no mercado europeu”, afirma Antonio Carlos.
Algumas situações práticas da comercialização desses equipamentos dão a dimensão da importância do certificado. É o caso das licitações realizadas por órgãos públicos processo no qual são exigidos dos fabricantes vários documentos e declarações sobre cada aspecto relativo ao cumprimento dos requisitos normativos. Agora, com o certificado, grande parte desta documentação poderá ser substituída por um só documento, aspecto positivo tanto para o contratante como para a TK Elevator, pois o processo interno complexo e oneroso antes existente para elaborar essa documentação tornou-se fácil de administrar.
A previsão é que os certificados também estabeleçam caminhos mais seguros para o mercado na hora de avaliar propostas de compra, devido à garantia de segurança e qualidade do equipamento. É também esperado que a certificação tenha repercussão entre os usuários finais dos elevadores, que são os principais beneficiados. “Sabemos que as pessoas usam o elevador diariamente de forma automática e nem sempre se preocupam com os processos de segurança e qualidade que estão por trás desse movimento ininterrupto de sobe e desce. Por isso, nosso objetivo é que os usuários reconheçam o elevador como um produto de qualidade, valorizando o certificado como um selo similar aos que já existem no mercado em diferentes setores”, reforça o executivo da TK Elevator.
O fato de os elevadores estarem certificados obriga a empresa a realizar acompanhamentos periódicos e auditorias anuais, além de submeter à ABNT qualquer alteração no produto certificado.
Nova Norma
Paralelo ao programa de certificação desenvolvido pela ABNT Certificadora, o setor de elevadores acompanhou a publicação da nova Norma de elevadores (ABNT NBR 16858-1:2021 e 2:2020), que substitui as normas anteriores (ABNT NBR NM 207:1999, ABNT NBR NM 267:2002 e ABNT NBR 16042:2012), englobando em uma única norma os requisitos para os elevadores elétricos e hidráulicos de passageiros e carga do tipo com e sem casa de máquinas.
A publicação em julho de 2020 corrigiu uma defasagem de quase vinte anos no conjunto de regras que regulamentam o projeto, a fabricação e instalação de elevadores no Brasil. A mais antiga delas era de dezembro de 1999 e tratava apenas de elevadores com casa de máquinas. A editada em 2002 era específica para elevadores hidráulicos. Em 2012, houve uma atualização da norma, porém tratando apenas de equipamentos que prescindem de casas de máquinas.
A nova norma está dividida em duas partes. A primeira trata dos elevadores de passageiros e elevadores de passageiros e carga. A segunda se refere aos requisitos do projeto, de cálculos e de inspeções e ensaios de componentes. A norma brasileira é baseada nas Normas europeias EN 81-20 e EN 81-50, porém com alterações em alguns aspectos que são considerados mais relevantes para o mercado nacional que nos países europeus. Ela começou a ser estudada em 2014 pelo comitê técnico da ABNT sobre elevadores, do qual fazem parte profissionais que trabalham nas empresas do setor, em laboratórios ou atuam como consultores. Após a conclusão da redação final, a norma foi submetida à consulta pública antes de ser publicada.
Na avaliação do engenheiro Luciano Grando, diretor técnico da Grando Engenharia, consultoria especializada em elevadores e escadas rolantes, as novas normas trazem mudanças significativas nos equipamentos dos elevadores, com impacto na tecnologia, nos custos e na segurança dos usuários e técnicos de manutenção. Um exemplo é um dispositivo adicional – independente do sistema de controle primário – que trava a subida ou descida do elevador caso ocorra a movimentação com as portas abertas, para impedir a ocorrência de acidentes.
Ele cita também, outras inovações tecnológicas abrangidas pela nova norma: controle sobre a velocidade da cabina ascendente; novos critérios de design dos dispositivos de controle; certificação dos dispositivos de segurança; meios de suspensão; sistema de resgate de passageiros; critérios de cálculos; e testes de aceitação antes da entrada em operação. “Também teremos mudanças nas dimensões das caixas de corrida e dos locais para instalação dos elevadores, principalmente em relação aos requisitos de última altura, devido à necessária folga entre a cabina e o teto da edificação”, complementa o engenheiro.
Assim como as normas europeias EN 81-20 e EN 81-50, a norma brasileira NBR 16858-1:2021 e 2:2020 apresenta exigências de certificação de todos os dispositivos de segurança de um elevador, visando garantir a segurança dos técnicos e usuários, critério que será atendido pela TK Elevator com a certificação obtida junto à ABNT, tendo assim um produto que pode atender aos principais mercados mundiais.
A nova norma entrará em vigor no início de 2024.