Certamente você já percebeu andando pelas ruas da sua cidade, diversos prédios antigos abandonados, sendo destruídos pelo tempo. Para revitalizar esses imóveis e o seu entorno, cresce no Brasil uma técnica chamada retrofit. Esse conceito surgiu na Europa e Estados Unidos e significa “colocar o antigo em forma” (retro do latim “movimentar-se para trás” e fit do inglês, adaptação, ajuste). Esse processo não deve ser confundido como uma simples reforma.“No retrofit são mantidas e até recuperadas as características arquitetônicas originais. Uma reforma comum pode alterar tudo, até mesmo as fachadas”, explica Daniele Dominique de Resende Tupynambá, engenheira civil.
Em novembro, dois prédios, situados na Cinelândia, centro do Rio de Janeiro, passaram pelo processo de retrofit. Os edifícios Maria Cândida e o Prosper, situados um ao lado do outro, foram transformados em um só e convertidos para uso residencial e misto, no modelo de coliving. A obra financiada pela Jive Investments, custou 80 milhões e visa ressignificar prédios antigos e valorizá-los.
“Retrofit é uma obra de modernização de construções antigas, procurando preservar características históricas importantes, sobretudo em fachadas”, diz a engenheira. “Essa técnica já vem sendo utilizada há alguns anos no Brasil e é usada quando a legislação não permite que uma construção antiga seja demolida por sua estrutura está muito degradada ou quando o prédio possui alto valor simbólico, cultural ou histórico. Qualquer prédio comercial/ residencial pode passar por esse procedimento, até mesmo um prédio tombado pode passar por modernizações sem perder suas principais características arquitetônicas”, explica.
Retrofit e arquitetura
“O profissional para “retrofitar” um edifício, fachada ou ambiente, busca atualizar características visuais e funcionais, a fim de dar lhes novo uso, uma nova cara, customizando e modernizando”, explica Ana Bonim, arquiteta pós-graduada em construção de obras públicas e proprietária do Ana Bonim _ Studio de Arquitetura. E completa: “A importância para a arquitetura se destaca principalmente pelo fato que a técnica vai além do visual, ela visa manter características inatas e intrínsecas, não se limitando à motivos estruturais, mas também a questões históricas e culturais levantadas”.
A arquiteta, que tem 19 anos de experiência na execução de projetos de arquitetura, acompanhamento e gerenciamento de obras, diz que antes de começar o procedimento, é necessário conversar com o cliente. “Após um briefing detalhado com o cliente, as soluções vão desde as visuais como a troca de revestimentos, pisos, texturas e cores, até a introdução de tecnologias mais avançadas de vedação (paredes, esquadrias e vidros) para controle acústico e térmico. “Além disso, é importante realizar uma pesquisa, levantar informações históricas e estruturais do local e estar atento a inovações tecnológicas e de legislação, para que desta forma se desenvolva um trabalho que gere benefício ao cliente e usuário”.
Startup e o nicho de mercado no retrofit
Em São Paulo, onde há cerca de 1.700 imóveis vazios ou subutilizados, o retrofit beneficia a vida de quem mora na cidade de diversas formas, e a principal delas é como alternativa à expansão horizontal dos bairros. Dados oficiais apontam que faltam ao menos 474 mil domicílios para atender à demanda habitacional na cidade, enquanto o centro e áreas estratégicas são muito bem servidas de escolas e hospitais, redes de transporte público, comércio e serviços, prontas para receber novos moradores. Ao ‘reciclar’ imóveis antigos em boas regiões, é possível ampliar a oferta de moradias bem localizadas sem incorrer nos custos públicos de novas infra-estruturas, como criação de ruas, redes elétricas e saneamento.
O conceito do retrofit e todos seus benefícios se relacionam diretamente com a missão da Yuca de revolucionar a vida de quem mora na cidade através de moradias de qualidade. Em outubro a Yuca revitalizou um prédio inteiro em São Paulo com a técnica: o Edifício Rachid Milad, que agora se chama Yuca Maranta.
Com 2.120m², 4 lojas e 28 apartamentos, o prédio era uma dessas peças raras da arquitetura de São Paulo. Porém, ele não estava nos seus melhores dias. A revitalização teve como foco a atualização do espaço para uma versão mais contemporânea, sem deixar de respeitar o conceito tradicional do prédio – com uma estética de bairro dos anos 50. Para tanto, os arquitetos e os engenheiros atuaram em todas as frentes do processo, desde o levantamento do edifício original, até a conceituação da linguagem arquitetônica, o desenho das plantas, e as soluções de engenharia para a conservação da estrutura do prédio. A revitalização trouxe os elementos originais da fachada, (como o verde das pastilhas) para a estética interna e preservou o conceito dos pisos e portas das áreas comuns, assim como a área comercial do térreo, que contribui para manter as calçadas de Pinheiros ativas.
A startup já está liderando projetos de ao menos mais quatro retrofits em São Paulo, com expectativa de lançamento a partir do final de 2022. A proptech é uma referência em moradia como serviço que oferece aos inquilinos uma diversidade de apartamentos com aluguel descomplicado, todos espalhados por São Paulo e em diferentes faixas de pacotes e que tem como propósito revolucionar a vida de quem mora na cidade. A Yuca se faz presente de ponta a ponta no processo de locação: fazendo curadoria dos investimentos em real estate, reforma com arquitetos e engenheiros especializados em gentileza urbana, precificação inteligente, ciência de dados que agilizam a ocupação das unidades e um atendimento humanizado no suporte aos moradores.
Desafios e vantagens em se fazer um Retrofit
Daniele Dominique de Resende Tupynambá, engenheira civil, acredita que um dos desafios do retrofit é atingir altos níveis de modernização nos mais diversos aspectos, desde plantas a materiais em uso, e em estruturas prontas, nem sempre é um trabalho fácil. “No retrofit faz-se o melhor possível dentro das limitações existentes em construções que exigem preservação de algumas partes”, explica. E completa: “Muitas construções antigas possuem instalações inapropriadas, que hoje trazem problemas, riscos, ou possuem alto gasto de manutenção ou de energia. Elas existem tanto na parte elétrica, de hidráulica, de elevadores, entre outros. Hoje, substitui-se por tecnologias atuais e mais resistentes em utilização e comando”.
Para a engenheira, uma das vantagens do retrofit, mesmo que algumas vezes, ele tenha um custo maior, é manter a história dos edifícios. “Muitas vezes o custo é mais alto do que uma obra nova. Porém, o valor é proveniente de quesitos como aproveitamento de materiais e, portanto, preservação ao meio ambiente, respeito ao patrimônio histórico e cultural de uma cidade”, explica.
“O retrofit é mais sustentável, o impacto ambiental é bem menor do que se construíssemos um prédio novo. Não é uma mudança radical: preservamos a estrutura, trocamos materiais, muitas vezes as partes hidráulica e elétrica estão comprometidas, e fazemos a impermeabilização. O retrofit tem capacidade para mudar uma cidade”, acredita Rafael Steinbruch, cofundador da Yuca. Para Eduardo Campos, sócio da Yuca, o retrofit ajuda os moradores a ter uma visão diferente da cidade onde vivem. “A revitalização proporciona aos moradores uma vivência mais proveitosa da cidade, aproximando-os de serviços essenciais, como trabalho, escola ou faculdade, evitando grandes deslocamentos e melhorando a qualidade de vida”, acredita.