Ser mulher e ocupar um cargo de liderança não é tarefa fácil. Principalmente, em um universo dominado pela figura masculina. Este cenário vem mudando com o passar dos anos e, cada vez mais, temos a força da autoridade feminina conquistando o controle das empresas.
Atualmente, é notável a mudança na sociedade. Com um olhar mais inclusivo, colaborativo e que pode colocar um fim na cultura do machismo, mais mulheres estão no poder. A participação feminina no mercado de trabalho mostra a evolução na estrutura social, até mesmo como uma maneira de retratar uma dívida histórica por toda discriminação e injustiça ao limitar as oportunidades de ascensão profissional com quem traz uma elevada contribuição para a humaninade.
Para Luciana Mendes, CEO da La Decora, liderar sempre foi algo natural na carreira como arquiteta. Antes do atual negócio, ela já havia empreendido com escritório de arquitetura tradicional e anteriormente trabalhou como gerenciadora de grandes obras em São Paulo. Quando Luciana e sua sócia Gabriela fundaram a empresa, não tinham ciência de que estavam criando uma startup e que tecnologia seria o cerne do negócio. A disciplina de tech nunca foi vista como mais desafiadora ou complexa, porém, por estarem habituadas a trabalhar com processos e metodologias, para a gestão direta dos times de tecnologia contam com o sócio CTO, Guilherme Hathy.
“Em 2016, eu e minha sócia Gabriela Accorsi, tivemos acesso a uma pesquisa do CAU (Conselho de Arquitetura e Urbanismo), que dizia que 85% das pessoas que construíram ou reformaram em 2015 não contrataram os serviços de um profissional, e que 70% contratariam serviços de projetos mais acessíveis. Então começamos a conversar sobre como melhorar os processos de atendimento e a execução de projetos com metodologias ágeis e utilizando tecnologia. Iniciamos a venda de projetos em 2017 e era atendido somente o público B2C – empresas que vendem para o consumidor final. Em 2018, descobrimos que éramos uma startup e fizemos uma aceleração no Founder Institute em São Paulo e desde então mudamos nosso modelo de negócio para B2B2C – empresas que vendem para outras empresas e pessoa física – para produzir projetos em formato White Label – um produto ou serviço produzido por uma empresa que são comercializados com a marca de outra – para Home Centers, incorporadoras, imobiliárias e condomínios que utilizam nossos projetos para resolver a dor de decoração dos seus clientes. Utilizando tecnologia, diminuímos o tempo de execução de um projeto de 30 horas para apenas duas horas. E hoje temos nossa plataforma que facilita todo o atendimento ao cliente e a gestão dos projetos, além de nos oferecer estatísticas relevantes para o setor de decoração”, conta Luciana.
Na construção da empresa, Mendes aponta que durante os cinco primeiros anos da La Decora, os sócios fundadores foram responsáveis pelo investimento na startup. Somente em 2021 atingiram break even operacional – ponto de equilíbrio da empresa, quando os custos e despesas operacionais se igualam à receita. A partir de julho do mesmo ano, iniciaram a jornada de captação e agora no início de 2022 fecharam a primeira rodada de investimentos, que será destinada à área comercial e à tecnologia.
Já a plataforma com modelo inovador de gestão de obras Prevision, nasceu de uma necessidade própria em 2017 e veio validando a grande dor das empresas de terem mais planejamento e domínio na evolução econômica. A CEO e fundadora, Paula Lunardelli, iniciou a jornada atendendo alguns clientes específicos, que já prestava consultoria. Em 2018 fez a primeira venda, a primeira obra, e terminou o ano com cerca de 30 obras realizadas pela sua plataforma. No ano seguinte, em 2019, chegaram a 120 projetos. Em 2020 foram cerca de 400 obras e em 2021 atenderam mais de 1000 obras por todo o país. “São atendidas empresas de alto desempenho, que buscam mais eficiência e uma construção mais enxuta para ganhar mais sustentabilidade e entregar melhores produtos”, afirma Paula.
O que atrai as mulheres para o mercado condominial
É evidente o crescimento feminino no mercado de tecnologia, porém em posições de líder, ainda há um longo caminho a ser traçado em relação à representatividade das mulheres em cargos mais estratégicos. Mas com o crescimento gradual da força feminina não só no mercado tech, mas nos mais diversos segmentos, com união e foco no futuro será possível propiciar um cenário cada vez mais igualitário.
Para Luciana, o que a atraiu para o mercado condominial foi terem uma solução de projeto de decoração prática e econômica, que atendem condomínios e empreendimentos que desejam renovar áreas comuns, valorizando os imóveis. Também atendem aos moradores de forma personalizada, com projetos de decoração completos, que respeitam as exigências da edificação e que facilitam as reformas. “Os condomínios utilizam como uma forma de realizar projetos rápidos e oferecer o benefício e a facilidade da decoração para os seus condôminos”, explica a CEO da La Decora.
Em conversa com Paula Lunardelli, CEO da Prevision, o que a atraiu para o setor foi a ideia de realizar a construção dos sonhos. Ela acredita que o mercado de construção e o condominial estão muito ligados aos lares e aos sonhos das pessoas. Isso é muito transformador. “Um cargo de liderança no mercado de tecnologia ao mesmo tempo que é um desafio é uma grande oportunidade. É um mercado que não tem restrições físicas ou de porte, então se consegue entregar valor em diversos lugares com uma escala muito grande. E ao mesmo tempo é um mercado que nos desafia todos os dias a ser melhor sempre. Por um lado, nos exige agilidade de transformação e ao mesmo tempo uma oportunidade de ser melhor a cada dia. Acho que no final das contas é isso que realmente importa na nossa vida”, conclui.
A liderança feminina e seu diferencial
É evidente que as mulheres em cargos de poder obtêm resultados excelentes, pois possuem habilidades e competências que colaboram com o alto desempenho. Isso acontece porque a maioria atua em diversas jornadas, com diferentes funções tanto em casa quanto no trabalho. Desta forma, adaptar-se continuamente às diferentes situações e lidar com as adversidades passam a fazer parte do dia a dia, trazendo uma atuação acima da média nos muitos ambientes que transitam.
Apesar de características como objetividade, independência e ambição serem atribuídas mais aos homens, hoje, tornaram-se comuns entre ambos os gêneros. Sendo que as mulheres possuem um diferencial: capacidade de adaptabilidade. Tudo isso somado as diversas habilidades as tornam profissionais super capacitadas e prova que ocupar posição estratégica e de liderança também é o lugar de uma mulher.
Na visão da Luciana Mendes, da La Decora, o diferencial competitivo da mulher está em dominar habilidades relacionadas à empatia, determinação e assertividade. “Temos facilidade em liderança de times diversos e em execução de multitarefas, mas acredito que isto tudo também é treinável. No meu caso, sempre me posicionei de maneira igualitária com relação aos homens, penso que ainda temos muito a evoluir em igualdade perante minorias. Mas a forma como a gente se vê e se insere no mundo corporativo, faz diferença quanto à mais oportunidades e também quanto à forma como os outros nos enxergam. Costumo dizer que estarei onde eu quiser e, toda vez que conseguir estar em ambientes onde antes somente os homens conseguiam chegar, abrirei a porta para mais mulheres ocuparem este espaço”, afirma.
Para Paula Lunardelli, da Prevision, está no fato de terem uma sensibilidade muito forte. Então conseguem levar em consideração os dados, além de se aprofundar e se desenvolver tecnicamente. E também possuem de positivo o feeling, a percepção e o olhar para as pessoas. “Vejo muito mais qualidades do que defeitos em ser mulher nesse mercado. Infelizmente percebo a presença feminina muito pequena no mercado de startups e da construção civil, mas esse movimento está se transformando e por isso que estamos aqui”, afirma Paula.
Desafios e a evolução feminina no mercado tech
Através de forte incentivo para que mais mulheres tenham oportunidades em posições de liderança, esse movimento vem sendo puxado justamente pelas empresas do setor de tecnologia e servido de modelo para os demais setores. Pois é fundamental falarmos sobre as mulheres no poder.
A presença feminina em startups ainda é muito pequena. Segundo o estudo “Female Founders Report 2021”, elaborado pela Distrito em parceria com a Endeavor, rede global de empreendedorismo, e a B2Mamy, empresa que capacita e conecta mães ao ecossistema inovador, apenas das 4,7% mulheres ocupam as posições de fundadoras e C-Levels – altas executivas. E esse dado também se reflete no setor da construção, que tradicionalmente possui mais profissionais homens. Mas no contexto de funções gerais acredita-se que haja mais equilíbrio. “No final do ano passado tive a experiência de participar de uma reunião de um hub do setor onde estavam 25 startups, sendo 24 representadas por homens e somente a La Decora sendo representada por mim. Foi impossível não comentarmos sobre a falta de presença feminina neste dia”, lembra Luciana.
Diante deste cenário diversos são os desafios enfrentados para tornar o mercado mais inclusivo. Na La Decora, a empresária relembra os muitos percalços que enfrentou, porém cita o último grande desafio, que foi a captação de investimento. O levantamento “Female Founders Report 2021” também identificou que menos de 1% de startups que recebem captação são lideradas por mulheres.
Em sua primeira tentativa de captação, em 2019, Luciana estava grávida e por muitas vezes não sabia se escondia a barriga nas apresentações de pitch – apresentação do modelo de negócios de uma startup para investidores – ou se assumia a gestação, com medo do julgamento e da descredibilidade. Uma pena este pensamento, mas é assim que muitas mulheres se sentem. Na segunda tentativa, que aconteceu no ano passado, passou por reuniões com investidores onde era a única mulher entre nove homens, que faziam perguntas relacionadas à sua empresa e para testar suas habilidades.
“Foram grandes desafios, porém grandes aprendizados. Com este mesmo fundo de investimentos, conseguimos nossa captação. Eu me preparei muito para o momento em que estou vivendo, sei que muitas outras mulheres têm competência para se posicionarem em cargos de liderança. Acredito que o que pode tornar o mercado mais inclusivo é justamente os líderes entenderem a importância de apostar no potencial feminino e cada vez mais apoiarem as mulheres durante a jornada – o apoio dos líderes é fundamental – pois são eles que tem o poder de tornar o mercado mais inclusivo”, relata Mendes.
A evolução feminina no mercado tech é evidente. O setor de construção civil é um dos menos desenvolvidos em tecnologia, numa pesquisa de 2018 as atividades imobiliárias configuraram em último lugar, e paradoxalmente é um dos mais ricos em termos de receita. Falando sobre o setor de construtechs e proptechs, Luciana Mendes, CEO da La Decora, acredita que estão no momento mais promissor. Onde a cultura do brasileiro tem mudado em relação aos serviços imobiliários, muito por conta da pandemia, que acelerou a inovação, possibilitou o atendimento remoto aos clientes e a visualização dos imóveis em realidade virtual. “Na minha área, os serviços como projeto de interiores sendo feitos de forma online ganharam o aceite e a validação do consumidor, que descobriu que pode usufruir da praticidade da tecnologia para realizar o sonho da decoração e a compra dos produtos para a casa. Tivemos um crescimento de 194% em venda de projetos no último ano. Todos ganham com esta evolução”, confirma Luciana.
Líderes inspiram e dão dicas para mais mulheres empreenderem na tecnologia
Mesmo em constante evolução no âmbito profissional, é preciso que uma quantidade maior de mulheres ingressem no mercado para ocupar mais cargos de poder.
Para Luciana, se puder inspirar e ajudar outras mulheres a entrarem no mercado de tecnologia condominial, será algo muito gratificante. “O que posso dizer é que eu acredito que podemos e devemos ocupar o lugar que desejarmos, seja em qualquer setor. Que o caminho é desafiador e os obstáculos são sim maiores para nós, mas não podemos perder o entusiasmo e a coragem. Devemos nos unir e a cada conquista lembrar que é possível ser exemplo e abrir caminho para as mulheres que vêm depois de nós. Eu tenho duas filhas e penso muito nisso, muito da minha força e energia para fazer a diferença, que vem da vontade de deixar um legado e um exemplo para elas”, afirma Luciana.
Este mercado ainda está no início da disrupção, ainda existem inúmeras ideias e iniciativas a serem desbravadas com tecnologia e inovação. A CEO da La Decora acredita que o básico para começar é ter um planejamento estratégico e foco no resultado, pois é muito fácil se distrair durante a jornada, tanto pelos erros quanto pelos acertos. Outra dica importante é ter uma mentora ou um mentor, alguém que tenha experiência para te ajudar a ter uma visão mais global e a tomar decisões importantes para o sucesso da sua jornada.
A CEO da Prevision, Paula Lunardelli, acredita que as grandes dicas para se empreender estão muito mais ligadas ao propósito, a força muito grande que a mulher tem e que vem de dentro e a vontade de transformar. “Primeiro entender de um problema real e se conectar ao que pode ser gerado de eficiência naquele sentido. Qual o impacto que a gente traz para a vida das pessoas no nosso país? Essa é a grande motivação, sendo a primeira dica: a jornada tem que está muito conectada a um propósito muito forte, e com isso forte vai se encontrando as melhores saídas. Então inspiro sim mulheres, saibam que é um caminho de desenvolvimento muito legal, a gente aprende e conhece pessoas fantásticas no meio do jornada. Não tenham medo! Acho que a grande questão às vezes é que a gente se desvaloriza, mas, saibam que temos um potencial incrível. Então vamos em frente!”, finaliza.