Estar à frente de uma empresa não é fácil. Compromissos, ideias novas e tomadas de decisão. São muitas e complexas as atribuições enfrentadas por gestores de todas as áreas. Para além dos desafios próprios de empreender, historicamente a atuação feminina nesse ramo não é facilitada. No entanto, isso tem mudado, graças ao desejo e à força de vontade de muitas mulheres que se arriscaram primeiro.
“Trabalho com paixão e a palavra ‘não’ está fora do meu vocabulário”. Essa foi a resposta de Fabiane Tamanqueira, engenheira civil e proprietária da empresa Viana Tamanqueira Engenharia, quando questionada sobre o que a atraiu para trabalhar neste mercado.
Essa garra é um dos grandes combustíveis para o aumento de lideranças femininas, em especial nas áreas tradicionalmente ocupadas por homens. O espaço conquistado por elas muitas vezes exige determinação extra, persistência e vigilância, mas os resultados são visíveis — não apenas nos empreendimentos que elas criam, mas também no mercado de trabalho como um todo.
Para abordar o panorama da liderança feminina em empresas tradicionais, o Condo.News traz histórias de mulheres que valorizaram sua própria formação, reconheceram seu potencial e traçaram sua história de gestão e liderança no mundo corporativo.
Realização profissional
A atuação de empresárias no mercado de trabalho ultrapassa o trabalho por si só. Ao liderarem suas empresas, elas mostram sua visão de mundo, compartilham seus conhecimentos e alcançam satisfação profissional e, muitas vezes, pessoal.
Filha de uma médica, Fabiane conta que sua mãe incentivava a mesma carreira para a filha. Ela, no entanto, não se interessava pela área e foi atrás do que desejava: “comecei com TST (Técnica em Segurança do Trabalho) e me apaixonei pelos canteiros de obra. Não tinha dinheiro para pagar uma faculdade, mas fui, com a cara e a coragem e passei”, conta.
Seguindo na área pela qual se apaixonou, Fabiane formou-se como engenheira civil, especializou-se em cálculo estrutural e patologias e abriu sua empresa. A possibilidade de atuar na área desejada, como foi o caso da empresária, é um dos principais fatores de satisfação profissional para mulheres.
A realização no trabalho influencia também a visão geral que a mulher desenvolve sobre si e impacta em seus outros papéis. Ao se definir como “empresária, esposa, mãe, filha e dona de casa”, Fabiane conta que admira a mulher que vem se tornando.
Para Norma, que está à frente da empresa MBS, a liderança na firma é também uma mescla de realização pessoal e profissional: “abracei a causa do meu marido. Após o casamento, larguei tudo e decidi investir no profissionalismo e no sonho dele”.
O que inicialmente era uma parceria em âmbito pessoal desdobrou-se em carreira e, hoje, sua atuação é vital para a empresa. Norma conta: “começo cedo, fazendo relatórios, levando demandas do dia. Contatos com clientes ficam comigo, e eles [técnicos] seguem meu direcionamento diário”.
Diferenciais competitivos
Os resultados positivos em empresas geridas por mulheres são notórios. Além da formação constante e qualificada que muitas profissionais buscam, algumas características mais comuns no comportamento feminino podem ser consideradas diferenciais competitivos e até mesmo matéria para mudanças profundas no mercado de trabalho.
Norma acredita que mulheres se comprometem mais e são mais abertas à inovação. O comportamento, que pode ser explicado pelo tipo de socialização que as mulheres costumam receber – com incentivo ao acolhimento e à receptividade – faz com que elas enxerguem oportunidades variadas e revejam algum ponto do negócio que exige reformulação.
Fabiane, por sua vez, reforça o perfil multitarefas e polivalente que muitas mulheres apresentam como um diferencial. Com uma analogia à maternidade, a empresária explica: “Instintivamente criamos etapas imaginárias que só nós somos capazes de cumprir. Qual homem consegue dar banho no filho, fazer comida e pegar com os pés o brinquedo que caiu no chão? Nós, mulheres, cuidamos com excelência de qualquer processo.”
Donas de negócio e suas áreas de atuação
Nos últimos anos, muito tem se falado sobre o empreendedorismo e a gestão de empresas entre mulheres, especialmente pelo crescimento da atuação feminina no mercado de trabalho. De acordo com informações do Sebrae divulgadas em 2018, as mulheres são 48% dos empreendedores do país.
No entanto, cabe destacar que, embora o empreendedorismo tenha números mais expressivos de participação de mulheres, a gestão de empresas tradicionais ainda apresenta pouca presença feminina.
Isso porque empreendedores são classificados, segundo o Sebrae, como “indivíduos que têm um negócio (formal ou informal) ou realizaram alguma ação, nos últimos 12 meses, visando ter o próprio negócio (formal ou informal)”. Essa atuação autônoma de mulheres, por sua vez, é bastante comum no Brasil.
Já a classificação “donos de negócio” é definida como “indivíduos que estão à frente de um negócio (formal ou informal), como empregador ou conta própria”. Ainda, em ambas as classificações, a gestão feminina costuma ser mais presente em áreas atreladas ao universo feminino, como beleza, moda e alimentação.
Com isso, é possível notar que mulheres estão, gradualmente, criando seus espaços no mundo corporativo e empresarial, mas ainda têm muito a alcançar em empresas tradicionais. Fabiane é um exemplo, entre muitos outros, de mulheres que escolheram gerir seus próprios negócios e seguiram as áreas que desejam, independentemente dos obstáculos.
Palestra de Sheryl Sandberg no TEDWoman: “Porque temos poucas mulheres a liderar”
Dicas para futuras empreendedoras
Embora o meio corporativo e o mercado de trabalho estejam, gradualmente, evoluindo para aumentar a participação feminina em todos os níveis, cargos e áreas, empresárias que já se estabeleceram no ramo deixam dicas e recomendações para outras mulheres que desejam empreender.
As dicas de Norma são persistência, conhecimento e planejamento: “persista mesmo quando ninguém acreditar em você, desenvolva metas, planeje e só pare quando atingir seus objetivos. Sobretudo, é importante você conhecer e dominar o ramo que escolheu, porque esse será o seu diferencial e dará credibilidade aos seus clientes”.
Para Fabiane, a busca por equidade é indispensável. “Se trate como igual. Agir naturalmente com as situações cotidianas sem ter que se colocar ‘no papel de mulher’ ou no ‘papel de homem’, simplesmente fazer”, explica.
Por fim, com exemplos positivos e a ocupação de espaços, a tendência é que cada vez mais mulheres possam alcançar suas ambições e liderar seus negócios.