Lançada em 2014, a campanha Janeiro Branco foi criada com o objetivo de discutir o cuidado com a saúde mental e assim colocar esse tema tão importante em evidência sempre no primeiro mês do ano. Na esteira das sérias dificuldades enfrentadas principalmente durante a pandemia do novo Coronavírus, o Brasil contabilizou 22 milhões de pessoas com transtornos emocionais e 11,5 milhões sofrendo de depressão, de acordo com dados divulgados pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em 2022.
Em meio a esse cenário preocupante, muitas vezes os problemas psicológicos são causados ou agravados por condições de trabalho ruins. O fato é um alerta para as empresas, que têm a melhoria dos seus espaços físicos como uma aliada importante para promover bem-estar aos seus colaboradores. Com esse objetivo, diversas companhias estão aplicando os conceitos da neuroarquitetura para elevar a qualidade dos seus locais de trabalho e torná-los mais confortáveis.
“É comprovado que o ambiente físico pode impactar nosso cérebro, que trabalha a partir de estímulos externos. Por isso, é importante pensar em espaços corporativos mais humanizados, que contribuam com o bem-estar dos colaboradores, com melhora na qualidade de vida e trazendo ainda mais resultados”, explica a arquiteta Denise Moraes, diretora de criação da AKMX Arquitetura e Engenharia, empresa com 20 anos de experiência na execução de projetos no mercado corporativo e empresarial.
A ONE (Ocean Network Express), companhia de transporte marítimo com escritório na Avenida Paulista, em São Paulo, é um exemplo de quem investiu de maneira significativa na melhoria dos seus ambientes de trabalho. E ao promover, a partir de 2019, um processo de mudança cultural, na qual trocou o perfil formal por outro mais descontraído, a firma instalou até uma chopeira em sua remodelada área de convivência, chamada Ocean Lounge. A AKMX fez o projeto do local, que ficou com espaços mais arejados, funcionais e modernos.
Hermírio Inamura, gerente administrativo da ONE, destaca que a pandemia serviu como um impulso para promover uma revolução na empresa, que se tornou possível, em parte, por conta do trabalho da AKMX. “Surgiu a oportunidade de criarmos um novo conceito de escritório e mudar a forma de trabalhar. Como a empresa implementou o trabalho híbrido, pensamos na oportunidade de os funcionários virem ao escritório e terem mais contato uns com os outros. Assim surgiu a ideia do Ocean Lounge, que pode ser utilizado conforme as necessidades, seja de lazer ou trabalho”, afirma.
Brasil tem 19 milhões com algum transtorno de ansiedade
Os dados divulgados pela Organização Mundial de Saúde no ano passado também apontaram que, no Brasil, quase 19 milhões de pessoas possuem algum tipo de transtorno de ansiedade. No universo corporativo, questões emocionais desta natureza e o estresse afetam diretamente a produtividade dos trabalhadores. Ciente desta realidade, a AKMX desenvolveu o conceito Neuro-Bio_UX, que une a neuroarquitetura com a biofilia e a experiência do usuário, projetando ambientes capazes de provocar reações cerebrais positivas.
“Conhecer a rotina de um escritório, ouvir os funcionários, cuidar do bem-estar e valorizar a cultura de uma corporação são alguns dos ingredientes que usamos. Fazemos uma série de perguntas para saber a cultura da empresa e, assim, conseguimos quantificar salas e qualificar os ambientes. Transformamos isso em algo visualmente agradável que, somado à convivência de equipe, traz muitos benefícios”, destaca Denise, lembrando também que os projetos também incluem a arquitetura biofílica, que faz a utilização de elementos como vegetação, madeira e bambu, por exemplo, ou que remetem à natureza. “Se aplicada em conjunto com cores mais neutras, a biofilia ajuda as pessoas a se conectarem com a natureza, proporcionando uma sensação de calma e leveza.”
Um estudo feito pela Universidade de Hyogo, no Japão, em uma empresa elétrica, mostrou que a frequência do pulso dos colaboradores, coletada em dois períodos distintos, variava após a colocação das plantas próximo a eles. Assim, concluiu-se que, com a diminuição dos batimentos cardíacos, reduziu também o estresse fisiológico e psicológico dos funcionários.
O esgotamento mental de trabalhadores é uma preocupação mundial, tanto que a Organização Mundial de Saúde (OMS) classificou a Síndrome de Burnout como doença de trabalho, o que reforça a necessidade de iniciativas por parte das empresas focadas na saúde mental dos trabalhadores. “A reclassificação da Síndrome de Burnout exige que as empresas tomem medidas para prevenir o desgaste de seus colaboradores, garantindo programas preventivos ao Burnout”, explica a advogada Aline Cogo Carvalho, do GBA Advogados Associados.