Riscos de inflação mais elevados em 2022 alimentaram a previsão para aumentos das taxas de juros, gerando assim um temor generalizado por uma recessão global. Esse cenário criou expectativas negativas para ações e crescimento de empresas de tecnologia – e as proptechs públicas não escaparam dessas correções.
Apesar desse panomara, ainda são expressivas as perspectivas de crescimento das proptechs. Os imóveis são um mercado global de US$ 9,6 trilhões e a pandemia acelerou tendências relacionadas ao setor, como relocação de capital de imóveis comerciais para residenciais com o trabalho remoto e a adoção de transações digitais.
Na América Latina, ainda é baixa a presença de investidores estrangeiros e a penetração de produtos e serviços online no setor. As proptechs da região podem aproveitar esse cenário para fazer uso de tendências e oportunidades globais e locais.
A avaliação está no mais novo estudo publicado pela Latitud, plataforma de tecnologia que fornece a infraestrutura para a próxima geração de startups na América Latina. O Latin America: Future of Proptech faz parte de um report maior produzido pela Latitud sobre sete indústrias diferentes, o The LatAm Tech Report.
O estudo faz uma análise do mercado global e latino-americano das proptechs e aponta tendências, oportunidades e desafios para sua expansão nos próximos anos.
Tendências e oportunidades
Em termos de tendências presentes e de curto prazo, a Latitud reuniu reflexões de investidores e players do setor americanos e latino-americanos. Durante a pandemia, fintechs focadas em imóveis ganharam tração e consumidores demandaram soluções mais tecnológicas para sua vivência como um todo.
Após dois anos de pandemia, investidores e players do setor perceberam uma demanda maior por mais amenidades e serviços dentro de condomínios e por casas em subúrbios. Eles também destacaram tendências como a demanda por inovações no setor comercial e de construção, incluindo soluções para aluguel e hipoteca no segmento comercial e organização de pedidos de materiais de construção como destaques mais específicos. Uma última tendência é a de mora
A análise de Latitud identifica ainda oportunidades em médio e longo prazo para o crescimento das proptech na América Latina.
Uma primeira é a aceleração da adoção dos recursos digitais, em um continente com grande população jovem ou de hábitos jovens, com uso cada vez maior de smartphones para múltiplas tarefas cotidianas.
Como consequência da pandemia, houve uma crescente opção pelo trabalho remoto e pela mudança de endereço de grandes para pequenas cidades. Dessa forma, o capital foi realocado de imóveis comerciais para imóveis residenciais. Tudo isso apontando para um maior uso de aplicativos e outras soluções digitais, alimentando o potencial de crescimento das proptechs.
Existe ainda uma expressiva fragmentação do mercado imobiliário na região, com atuação de muitos corretores e agentes independentes com baixo NPS e sem capital suficiente para investimento nos inevitáveis processos de digitalização. O marketplace imobiliário digital é o segmento das proptech com maior nível de financiamento no continente.
Nesse sentido, alguns modelos que podem prosperar são os que promovem mais acesso a imóveis, inclusive por meio de propriedade fracionada; plataformas full-stack; e marketplaces e softwares verticais.
Potencial monitorado e explorado pelos investidores
Investidores de risco aplicaram US$ 4 bilhões em startups da América Latina e mais de 90% desses investimentos aconteceram nos últimos quatro anos.
O desenvolvimento do ecossistema proptech na região tem resultado, com efeito, em rodadas de investimento cada vez maiores, impulsionando o setor. Em termos gerais, 235 investidores de capital de risco já atuaram em rodadas de financiamento de proptechs na América Latina, sendo 99 investidores anjo.
São 124 milhões de famílias na região, grande parte delas procurando a casa própria. São 40 milhões de famílias ainda vivendo de aluguel. O valor estimado das hipotecas na América Latina é de US$ 170 bilhões.
Com 66 milhões de famílias, o Brasil é o mercado de maior potencial de crescimento para as proptechs. Dos US$ 4 bilhões aplicados pelos investidores de risco, 70% tiveram como destino startups brasileiras.
Expansão global, desafios locais
O Latin America: Future of Proptech nota que houve um expressivo avanço das proptechs em termos globais, sobretudo após o início da pandemia de covid-19, no contexto da rápida digitalização da economia. Um indicador nesse sentido é que 63% dos unicórnios globais nasceram após a eclosão da crise sanitária global, sendo 30% deles na área de marketplaces online em habitação. Antes de 2016, existia apenas um unicórnio no setor de proptechs. Somente em 2021, foram 13 iniciando suas operações.
Apesar do crescimento expressivo, o risco de uma recessão global, identificado com maior força em 2022, atingiu em cheio o segmento. Apenas nos mercados públicos, as ações da maioria das proptechs caíram cerca de 50% no ano. Com isso, houve um expressivo número de demissões em proptechs ao longo do ano.
Além do cenário global preocupante, as proptech da América Latina têm pela frente desafios próprios do continente, como a insegurança jurídica e a desconfiança em relação a políticas governamentais. Também são desafios importantes os juros elevados e a alta informalidade, somando boa parte do Produto Interno Bruto.
O relatório de Latitud aponta, em síntese, que o setor de proptech tem muitas janelas de oportunidade na América Latina, em particular em termos de marketplaces imobiliários. Superados os desafios da conjuntura global e do cenário local, há um vasto campo a percorrer pelo segmento na região.