A biometria facial como ferramenta de controle de acesso a prédios e condomínios tem ganhado cada vez mais espaço no Brasil. Na busca por mais segurança, especialmente em um país onde esse tema é uma preocupação central na escolha de onde morar, a promessa da tecnologia é sedutora: acesso rápido, prático e seguro, principalmente por diminuir filas e evitar, consequentemente, os riscos de assaltos nas portarias.
Mas a pergunta que precisamos fazer é: estamos preparados para lidar com os riscos e as responsabilidades que acompanham essa inovação?
Tecnologia já consolidada no setor financeiro, a biometria facial com liveness detection — capaz de verificar se a imagem corresponde a uma pessoa viva e presente — começa a migrar para o ambiente condominial. A expectativa é de que essa camada adicional de validação reduza significativamente o risco de acessos indevidos, impedindo fraudes por meio de fotos, vídeos ou moldes faciais.
Contudo, a segurança demanda mais do que a adoção de ferramentas avançadas. No Brasil, a cultura da proteção pessoal é muito mais presente do que em países desenvolvidos, onde é comum encontrar condomínios sem vigilância física — um cenário praticamente impensável por aqui. Essa realidade exige um olhar criterioso sobre a implantação de qualquer solução tecnológica.
Nesse cenário, a segurança não deve ficar restrita apenas a um fator, como a face. Ela precisa ser pensada como um ecossistema que envolve múltiplos fatores de validação, como: validação de telefone, garantindo que o número fornecido realmente pertence ao usuário, verificação de documento, para checar a autenticidade e evitar cadastros falsos, e, a camada humana, que continua sendo importante por ser uma validação poderosa contra tentativas de engano. A combinação destes fatores amplia a segurança nos condomínios.
Outro elemento crítico é a proteção dos dados pessoais. Em conformidade com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), as informações biométricas devem ser armazenadas de maneira segura, em cofres digitais, acessíveis apenas com o consentimento explícito do usuário. A transparência no tratamento dos dados é indispensável para construir confiança.
À medida que essas soluções evoluem, surgem novas oportunidades para criar condomínios mais seguros, inteligentes e eficientes. Investir em tecnologia é, portanto, mais do que uma tendência: é uma necessidade para atender às expectativas de um mercado cada vez mais conectado e exigente.
Ainda assim, é ilusório acreditar que qualquer sistema esteja imune a riscos. O jogo contínuo entre fraudadores e tecnologias de segurança exige atualizações constantes — tanto dos sistemas quanto da cultura de seus usuários. Educação digital, conscientização sobre privacidade e respeito à legislação são fundamentais para garantir que a tecnologia seja usada de maneira segura e responsável.
Mais do que simplesmente adotar a biometria facial ou qualquer outro recurso, é fundamental compreender que segurança não é um evento, é um processo. Trata-se de uma construção coletiva que envolve inovação tecnológica, processos e procedimentos, responsabilidade ética e vigilância contínua.
Afinal, mais do que controlar quem entra, é imprescindível garantir que nossos dados — e a nossa privacidade — não saiam por aí sem controle e proteção.