Após duas quedas consecutivas, em agosto e setembro, a inadimplência da taxa de condomínio no Rio de Janeiro voltou a subir em outubro, chegando a 11,24%, em média, segundo levantamento realizado pela Superlógica.
A alta no estado segue uma tendência verificada no país como um todo: a inadimplência condominial foi a mais elevada dos últimos 10 meses na média nacional, registrando 13,84%. Em agosto, a inadimplência da taxa condominial no Rio de Janeiro foi de 8,96%, 0,13 ponto percentual menor que a de julho (9,09%). Setembro manteve o viés de baixa, com a marca de 8,91%. O cenário se reverteu no estado de acordo com a última medição, de outubro.
“A inadimplência do mercado condominial vem subindo, e dois dos motivos são o aumento da inflação e da taxa de juros. São fatores que reduzem o poder de compra da população e, consequentemente, aumentam a inadimplência – sobretudo a condominial, dada a prioridade de pagamento das pessoas por despesas mais caras, como cartão de crédito, empréstimos e cheque especial”, analisa João Baroni, diretor da unidade de negócios de crédito da Superlógica. “Além da inflação e da alta dos juros, que impactam o custo de vida das pessoas, observamos que as bets também têm impactado nos gastos de muitas pessoas. E sabemos que isso tem reflexo na inadimplência por ser mais um fator de comprometimento do orçamento familiar.”
O relatório foi feito com aproximadamente 70 mil condomínios em todas as regiões do Brasil, somando mais de 3 milhões de imóveis (casas e apartamentos), no país, que possuem boletos que estão há mais de 30 dias sem pagamento ou que foram pagos com atraso de mais de 30 dias. Todos os dados são anonimizados, ou seja, não são passíveis de associação a um indivíduo, direta ou indiretamente. O levantamento leva em consideração o valor da taxa de condomínio, o tipo de imóvel (apartamento ou casa) e a sua localização, além das datas de vencimento e pagamento, que mostram se há inadimplência ou não.
Estado a estado
Entre os estados, Goiás liderou o ranking de inadimplência da taxa condominial em outubro, com 22,66%, seguido de Mato Grosso (17,64%), Alagoas (15,85%), Rio Grande do Norte (14,85%), Amazônia (14,85%), Rondônia (14,37%), Maranhão (13,26%), Paraíba (13,17%), Minas Gerais (13,04%), Pará (12,78%) e São Paulo (12,52%). Já os menores índices foram registrados no Espírito Santo (8,02%), Ceará (9,06%), Pernambuco (9,23%), Paraná (9,44%), Mato Grosso do Sul (9,59%), Distrito Federal (10,36%), Santa Catarina (10,66%), Sergipe (10,89%), Rio Grande do Sul (10,96%), Rio de Janeiro (11,24%) e Bahia (12,45%).
O levantamento da Superlógica revela ainda que, entre janeiro e outubro de 2024, o valor da taxa de condomínio no Brasil, em média, aumentou bem acima da inflação: de R$ 828,03 para R$ 901,74, uma elevação de 8,9% – 5,02 pontos percentuais a mais que o IPCA do período (3,88%). A alta no Rio de Janeiro foi ainda maior, de 16,75%. A taxa condominial no estado passou de R$ 883,49 em janeiro para R$ 1.031,47 em outubro. Foi um dos maiores aumentos do país, à frente de Espírito Santo (13,46%), Distrito Federal (12,48%) e Rio Grande do Sul (11,97%). As menores variações do período ficaram por conta dos estados da Bahia (2,27%), Paraná (4,57%) e Ceará (5,32%).
Custo de vida
Na comparação com o salário mínimo brasileiro atual, que é de R$ 1.412, a taxa média de condomínio, em valores nominais, já equivale a 95% dele no Ceará (R$ 1.341,30), 92% em Pernambuco (R$ 1.299,60), 81% no Amazonas (R$ 1.152,43), 76% no Maranhão (R$ 1.079,36), 74% no Rio Grande do Norte (R$ 1.052,50), 73% no Rio de Janeiro (R$ 1.031,50) e 70,8% no Espírito Santo (R$ 999,30). Na média nacional, a taxa de condomínio equivale a 63% do salário mínimo.
O recorde de inadimplência da taxa condominial no Brasil se insere em um cenário amplo de contas em atraso, como mostra um estudo recente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP). A pesquisa indica que 77% das famílias brasileiras têm alguma dívida, sendo que, nos últimos dois anos, houve um incremento de 1,45 milhão no número de famílias que assumiram débitos. Foram consultadas 18 mil famílias em 27 capitais, durante o último mês de julho. São Paulo, Rio de Janeiro, Distrito Federal, Belo Horizonte e Fortaleza são as capitais com mais famílias endividadas.
Consequências e soluções
A inadimplência da taxa condominial traz consequências prejudiciais tanto para os condôminos como para o próprio condomínio. Se, de um lado, o morador corre o risco de perder até o imóvel por não pagar a cota, caso a dívida seja judicializada e o bem, colocado em leilão, de outro o gerenciamento de gastos da coletividade torna-se incerto, muitas vezes inviabilizando manutenções de rotina e obras de melhoria.