Tenho acompanhado de perto o comportamento do mercado imobiliário corporativo no Rio de Janeiro e posso afirmar: ele está reagindo. Ainda de forma tímida, é verdade, mas os sinais de melhora são claros, especialmente nos empreendimentos de padrão mais elevado, localizados nas áreas centrais da cidade
Depois de um longo período de retração, o setor começa a reencontrar seu equilíbrio. Foram anos desafiadores, marcados por recessão econômica, pandemia e mudanças profundas na forma de trabalhar.
A popularização do home office reduziu drasticamente a ocupação em edifícios corporativos e derrubou os valores de locação e venda. Em muitos casos, observamos quedas de até 40% em relação aos patamares anteriores à Covid-19.
A partir de 2022, esse movimento começou a se estabilizar. Hoje, já percebemos empresas retomando o trabalho presencial, seja de maneira integral, seja em modelos híbridos. Isso tem estimulado uma busca gradual por espaços que ofereçam conforto, tecnologia e localização estratégica. O centro do Rio, que havia sido o grande símbolo da vacância pós-pandemia, começa a receber novamente consultas e negociações mais consistentes.
Esse fenômeno vem acompanhado de dois movimentos que considero fundamentais para entender o momento atual: o chamado Flight to Quality, quando empresas migram para imóveis de melhor padrão, e o Flight to Price, em que buscam condições mais vantajosas de custo. Proprietários de edifícios de classes A e A+ têm utilizado estratégias agressivas de negociação, oferecendo carência, descontos e até auxílio na adequação dos espaços para atrair novos locatários.
O resultado é uma leve, mas importante, melhora nos indicadores. A absorção bruta de escritórios na região central gira em torno de vinte mil metros quadrados por semestre, o que demonstra uma certa estabilidade. Isso não significa um mercado aquecido, mas sim um ambiente mais equilibrado, que já não opera sob a lógica da urgência e da desvalorização.
Ao mesmo tempo, os empreendimentos de padrão intermediário e inferior ainda enfrentam grandes desafios. A concorrência é intensa e muitos proprietários trabalham apenas para reduzir o ônus da vacância, cobrando valores próximos aos custos de condomínio e IPTU. Para esses ativos, vejo como fundamental a busca por alternativas — como conversões para uso misto ou integração a programas de revitalização urbana. O Reviver Centro é um bom exemplo de política pública que pode ajudar nessa transição, tornando o centro mais atrativo e habitável.
Outro ponto que considero importante é a mudança no perfil do locatário. As empresas de hoje valorizam praticidade e flexibilidade. Ambientes prontos, mobiliados e com infraestrutura moderna têm sido ocupados com mais rapidez. A decisão de locar um espaço deixou de ser apenas financeira: envolve cultura organizacional, produtividade e até reputação da marca.
Naturalmente, o momento ainda exige cautela. O ciclo eleitoral de 2026 traz incertezas e tende a retardar novas decisões de longo prazo. Mesmo assim, o cenário é mais positivo do que há alguns anos. Vejo o mercado fluminense retomando o fôlego, com players mais conscientes, negociações mais realistas e um ambiente que, aos poucos, volta a inspirar confiança.
O mercado imobiliário do Rio de Janeiro reage. Devagar, mas de forma consistente. A cidade tem uma vocação natural para a atividade corporativa, e acredito que essa força voltará a se expressar com intensidade nos próximos anos. É um processo de reconstrução, e cada passo dado nessa direção representa uma vitória para quem acredita no potencial do Rio.
*Por Carlos Calzavara, sócio-diretor da RealtyCorp
