Ao observarmos o impacto crescente das ilhas de calor urbanas nas cidades brasileiras, a pergunta que se impõe é: como podemos projetar edificações que não apenas reduzam esse efeito, mas também melhorem o ambiente ao seu redor?
Como arquiteta e urbanista, considero essencial que a arquitetura deixe de buscar protagonismo isolado e passe a dialogar com o entorno, incorporando estratégias que devolvam qualidade ambiental aos espaços urbanos.
Telhados verdes como solução central
Entre as soluções mais eficazes para enfrentar o aquecimento urbano, os telhados verdes se consolidam como uma ferramenta de alto impacto. Em Florianópolis, cidade em que a paisagem natural influencia diretamente a forma de habitar, esse sistema ganha ainda mais relevância.
Uma cobertura verde, como a desenvolvida em um dos projetos recentes, prevê 6.300 m² de área vegetada, um dos maiores telhados verdes residenciais do Brasil. Mais do que um elemento estético, trata-se de uma solução de desempenho ambiental que:
- melhora a qualidade do ar;
- regula a temperatura interna e externa da edificação;
- favorece a biodiversidade ao atrair insetos, pássaros e pequenos animais;
- contribui para a permeabilidade e para a retenção de água da chuva.
Ao substituir superfícies de alta absorção térmica — como concreto, asfalto ou telhas convencionais — por vegetação, reduz-se significativamente a retenção e a emissão de calor para o entorno. Isso ameniza o microclima local e mitiga os efeitos das ilhas de calor, uma das principais causas da elevação de temperatura em áreas densamente urbanizadas.
Estudos indicam que coberturas verdes podem reduzir em até 30 °C a temperatura superficial e em cerca de 10 °C a temperatura interna, quando comparadas a telhados tradicionais. Essa diferença se reflete diretamente no conforto térmico, no consumo reduzido de ar-condicionado e na qualidade de vida dos moradores.
Materiais de alta refletância e outras boas práticas
O enfrentamento ao efeito de ilha de calor não se resume ao uso de vegetação. O emprego de materiais de revestimento de alta refletância, capazes de refletir uma maior parcela da radiação solar, complementa as demais estratégias sustentáveis. Ao evitar o acúmulo de calor, esses materiais reduzem a necessidade de resfriamento artificial e contribuem para maior eficiência energética do edifício.
Outras abordagens que apoiam a mitigação do calor urbano incluem:
- design biofílico, aproximando a natureza dos espaços construídos;
- paisagismo funcional, com vegetação que cumpre funções ambientais específicas;
- ventilação cruzada e sombreamento natural;
- soluções de infraestrutura verde que conectam o edifício ao bairro.
Essas práticas formam um conjunto de ferramentas que ajudam a transformar edifícios em agentes de equilíbrio climático, e não de degradação.
Sustentabilidade como diretriz de longo prazo
O crescimento das cidades e da construção civil é inevitável. O que não deve ser inevitável é o impacto negativo desse processo. Cabe a nós, profissionais do setor, desenvolver soluções que conciliem inovação, bem-estar e responsabilidade ambiental.
Em uma ilha como Florianópolis, onde a paisagem é parte indissociável do modo de viver, projetar com respeito ao ambiente natural é mais do que uma escolha estética: é um compromisso com o futuro das cidades e com a saúde coletiva.
*Por Camila Zaniboni Seba Salomão, arquiteta e coordenadora de arquitetura e incorporação da GND Incorporadora
