O setor de climatização e refrigeração no país passa por uma reestruturação sem precedentes. A ratificação da Emenda de Kigali ao Protocolo de Montreal, incorporada pelo governo brasileiro em 2022, estabeleceu um cronograma para eliminar gradualmente os hidrofluorcarbonos (HFCs), gases usados em sistemas de ar-condicionado e refrigeração com alto potencial de aquecimento global. O plano nacional prevê congelamento do consumo em 2024 e redução de 80% até 2045, em relação à média de 2020 a 2022, alinhando o país às metas internacionais de mitigação climática.
De acordo com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), a transição global para refrigerantes de baixo potencial de aquecimento pode evitar o aumento de até 0,4 °C na temperatura média do planeta até o fim do século. Os gases alternativos, como o R-32, o R-290 (propano) e o R-600a (isobutano), já estão sendo adotados por fabricantes, com destaque para sua maior eficiência energética e menor impacto ambiental.
No Brasil, a Agência Nacional do Petróleo (ANP) e o Ministério do Meio Ambiente atuam na regulamentação da importação e do uso desses novos fluidos. A adequação das normas técnicas da ABNT e o fortalecimento da fiscalização do Plano de Manutenção, Operação e Controle (PMOC) completam o pacote de medidas que deve redesenhar o mercado de climatização até o fim da década.
Eficiência energética ganha protagonismo
Em paralelo, o Inmetro revisou os padrões mínimos de eficiência energética dos aparelhos de ar-condicionado. A nova classificação, definida pela Portaria nº 234/2020, substituiu o antigo índice de eficiência (EER) pelo IDRS, o Índice de Desempenho de Refrigeração Sazonal. O novo modelo, vigente desde 2023, exige que os equipamentos atinjam desempenho mínimo de 5,5 para a classe “A”, subindo para 7,0 a partir de 2026.
Segundo o engenheiro mecatrônico e especialista em climatização Patrick Galletti, CEO do Grupo RETEC, empresa que atua há mais de 40 anos, no setor de climatização e refrigeração, o impacto dessas mudanças será sentido em toda a cadeia produtiva. “As novas regras obrigam o setor a investir em inovação, desde a substituição dos gases até o desenvolvimento de equipamentos mais eficientes. Isso representa avanço ambiental, mas também econômico, já que sistemas modernos consomem menos energia e exigem menos manutenção”, explica.
Tecnologia e automação reduzem consumo
Levantamentos da Agência Internacional de Energia (IEA) apontam que os sistemas de climatização e refrigeração respondem por cerca de 10% do consumo global de eletricidade. “No Brasil, esse percentual pode ser ainda maior em edifícios corporativos e públicos. O desafio é equilibrar conforto térmico e responsabilidade ambiental”, complementa Galletti.
Além da transição de gases e da eficiência energética, a tendência é integrar tecnologias de automação, sensores de ocupação e controle por zonas independentes. Essas soluções ajustam a operação dos sistemas conforme a presença de pessoas e as condições externas, reduzindo desperdícios. O uso de energia solar e sistemas VRV (Volume de Refrigerante Variável) também vem crescendo entre empresas que buscam certificações ambientais e redução de custos operacionais.
Para o engenheiro, as novas normas marcam uma mudança de paradigma. “O ar-condicionado deixou de ser apenas um equipamento de conforto. Ele passou a fazer parte das estratégias de sustentabilidade e de gestão de energia das organizações. A regulamentação vem para garantir que essa transição seja segura, eficiente e benéfica para todos”, afirma Galletti.
Dicas do especialista
• Escolher equipamentos com selo de eficiência “A” do Inmetro.
• Optar por gases de baixo potencial de aquecimento global (GWP), como R-32, R-290 e R-600a.
• Adotar manutenção preventiva e verificação periódica de vazamentos.
• Integrar sensores de presença e automação para reduzir o consumo desnecessário.
Com a pressão por metas climáticas e a escalada das temperaturas no país, o setor de climatização entra em uma nova era: mais limpa, eficiente e conectada às políticas globais de sustentabilidade.
