Quando falamos das verduras, frutas e hortaliças que chegam na mesa das pessoas depois delas terem ido a feira livre ou ao mercado, estamos falando de agricultura familiar. Ela é a responsável por abastecer o mercado interno brasileiro, e seu processo produtivo é bem diferente daquele adotado pelos grandes produtores de monoculturas como soja e milho, por exemplo.
Nela, a gestão da propriedade é compartilhada pela família e a atividade produtiva agropecuária é a principal fonte geradora de renda. A diversidade de produtos cultivados também é uma característica marcante desse setor.
Segundo dados de abril de 2022 da Organização das Nações Unidas Pela Agricultura e Alimentação (FAO), os pequenos produtores são responsáveis por um terço da produção mundial de alimentos no mundo.
Outro conceito importante aplicado à logística que leva o alimento à mesa é o de agricultura local. Consiste basicamente em você priorizar adquirir alimentos produzidos na sua região para diminuir impactos ambientais como o lançamento de mais gases derivados do diesel dos caminhões transportadores no meio ambiente, uma vez que quanto maior a distância percorrida, mais combustível está sendo queimado.
Hortas nos condomínios
Na tentativa de trazer o conceito de agricultura local, alinhado ao bem estar e a preocupação em tornar as cidades um pouco mais verdes, está a ideia das hortas comunitárias em condomínios.
Já é comum moradores cultivarem individualmente em suas sacadas alguns vasos com temperos, por exemplo, mas aqui a ideia é que todos os moradores cuidem de uma horta em um espaço comum e tenham acesso ao alimento cultivado.
Conversamos com Lucas Girard, do laboratório de inovação LelloLab, da administradora paulistana Lello e Roberta Mourão, da startup Loa Terra para entender sobre o projeto “Nossa Horta”, gerido por eles nos condomínios administrados pela empresa.
“Acreditamos muito no potencial que essa implementação trará para a qualidade de vida dos moradores, podendo incentivar práticas sustentáveis na comunidade. Pensando nas crianças, é uma ótima maneira de conectá-las com a natureza, desenvolvendo aptidões como a paciência, o cuidado e a capacidade de observação. Podemos impactar o microclima local, reduzindo ilhas de calor e as áreas impermeabilizadas”, afirma Mourão.
O Nossa Horta
O projeto foi lançado em dezembro de 2021 e a expectativa é que as hortas atendam necessidades cotidianas como temperos, chás e verduras. A capacidade de produção irá variar de condomínio em condomínio, de acordo com a área disponível de cada um. As ideias principais são tornar os condomínios autossuficientes na produção de alguns hortifrutis e aproveitar com mais qualidade espaços comuns.
“Atualmente, a característica das áreas verdes em condomínios é predominantemente decorativa. Nós queremos fugir dessa dinâmica e introduzir noções de agricultura urbana, agroecologia e agrofloresta, gerando engajamento comunitário e eliminação de gastos recorrentes desconectados de usos funcionais, produtivos”, explica Lucas Girard, do laboratório de inovação LelloLab .
Além dos benefícios já citados a respeito da implementação de uma horta comunitária, no caso da Nossa Horta, existe o impacto positivo a respeito da segurança alimentar, já que o programa conta com uma contrapartida social, onde uma horta comunitária é implementada em um condomínio popular para cada 10 hortas cultivadas na rede Lello.
Como iniciar uma horta comunitária
O primeiro passo é levar o assunto para a assembleia condominial. Depois de ter a proposta aprovada, é preciso procurar um local promissor dentro do condomínio. O principal é o espaço ter boa iluminação e ventilação, além de moradores com vontade de cultivar e pensando no lado financeiro, uma reserva em caixa para a execução da ideia. O Lellolab e a Loa Terra estão disponíveis para fornecer as orientações necessárias e os primeiros resultados da horta podem ser vistos um mês depois dos primeiros cultivos, com o aparecimento de alguns temperos.
Além da implantação da horta, há o processo de trabalho com a compostagem, para evitar o descarte desnecessário de resíduos pelos moradores e pelo condomínio.
“Oferecemos o suporte para que a compostagem seja adotada dentro dos condomínios. A ideia é começar pela compostagem de restos de poda – apara de grama, galhos, entre outros, o que já economiza sacos de lixo e impacta o envio desse resíduo para os aterros sanitários – e em seguida introduzir a compostagem de resíduos alimentares, gerando adubo orgânico para a horta e demais áreas verdes do condomínio”, explica Roberta Mourão, da startup Loa Terra.