A pandemia do Covid-19 trouxe mudanças para a rotina de todos e no funcionamento dos prédios não poderia ser diferente. Se no começo os síndicos precisavam aprender a lidar com os riscos associados à doença, hoje, com o avanço da vacinação e as atividades voltando ao normal, é preciso começar a visualizar o novo modelo de condomínio: aquele que vai ficar no pós-pandemia.
Considerando que a pandemia trouxe muitos aprendizados, Luiz Barreto, diretor da ABADI (Associação Brasileira de Administração de Imóveis) e presidente da administradora de condomínios Estasa, lista três alterações que ficam como legado para os condomínios.
-Assembleias virtuais vieram para ficar
Os condomínios precisaram seguir tomando decisões, elegendo síndico, aprovando orçamentos e, principalmente, revisando as regras para o uso de espaços coletivos. Essas decisões foram tomadas e comunicadas de uma forma diferente, em assembleias virtuais, durante o auge da pandemia. A experiência deu certo e agora está regularizada.
No dia 09 de março foi sancionada a Lei 14.309, de 2022, que permite a realização dessas assembleias e votações em condomínios de forma eletrônica ou virtual de forma permanente. Conforme o texto sancionado, encontros dos órgãos deliberativos agora podem ser realizadas por meio eletrônico que assegure os mesmos direitos de voz e voto que os associados teriam em uma reunião presencial.
Os condomínios encontravam-se com uma lacuna normativa, pois a lei 14.010/2020 perdeu o efeito no dia 30 de outubro de 2020 e não existiam normas nas convenções que respaldassem convocações para esse tipo de assembleia.
A implantação das reuniões virtuais fez com que o quórum das assembleias condominiais aumentasse, entre outros benefícios. Para a gerente geral de Gestão Predial da Estasa, Anna Carolina Chazan, com todas as cautelas jurídicas necessárias, a assembleia virtual veio para agregar. “Esses encontros remotos nos ajudaram muito na gestão dos condomínios no período de pandemia. O que antes parecia impossível, tornou-se um grande avanço tecnológico, visto que o mercado imobiliário ainda é muito tradicional. Além disso, percebemos um aumento significativo na participação dos condôminos, muitas pessoas que estavam isoladas em outros países e estados conseguiram participar contribuindo com as tomadas de decisões.”
Patrícia Sanches, moradora do edifício Britania, no Largo do Machado, bairro da zona sul do Rio de Janeiro, destaca que as assembleias virtuais são muito positivas para os condôminos. “Esse formato aproximou os condôminos de maneira definitiva, dando a possibilidade de participação também daqueles que não poderiam estar presente se fosse apenas no formato tradicional. Outra característica importante é que a participação, seja presencial ou virtual, ocorre em igualdade de condições. Ou seja, a via digital passou a ser a solução para diversas situações que poderiam impedir a participação direta de condôminos – hoje, mais participativos.”, concluiu.
– Adaptação de espaços para pets
Os animais de estimação já são membros da família em metade dos lares brasileiros. De acordo com a pesquisa Radar Pet 2021, realizada pela Comissão de Animais de Companhia (Comac) do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para a Saúde Animal (Sindan), o número de pets aumentou 30% durante o isolamento social, totalizando cerca de 150 milhões de animais.
Essa realidade fez com que condomínios dedicassem um espaço das áreas comuns ao lazer dos animais e, com isso, favorecer o convívio e os cuidados com eles.
Foi o caso do condomínio Via Alto Mapendi, na Taquara, zona norte da capital fluminense. É na área comum que a moradora Thainá Almeida leva seus dois cachorros para passear todo dia. “Um dos pontos positivos de ter essa área dentro do condomínio é a segurança. Sem dúvida, é muito melhor levar o seu cachorro para passear e fazer as necessidades em uma área destinada a ele dentro do condomínio do que ir para a rua, já que hoje em dia ficamos expostos a violência.”. Ela ainda acrescenta que na área pet o animal tem a oportunidade de socializar com outros cães. “Aqui no condomínio temos um grupo de Whatsapp das pessoas que usam bastante o espaço e o combinamos de descer juntas. Isso faz com que eles tenham contato com outros cachorros e, consequentemente, ficam mais sociáveis e mansos”, explicou.
“Esses espaços pet foram criados até em prédios antigos, onde não havia essa necessidade antes. Mas agora com aumentos dos animais de estimação, essas áreas veriam para ficar”, conclui Luiz Barreto, da Estasa.
– Aumento das entregas e acesso à portaria
Os serviços de delivery e as compras pela internet cresceram 27% na pandemia e passaram a ser um hábito, pela facilidade e preços melhores. Com isso, aumentou muito o trânsito de entregadores, assim como o volume de pacotes.
No condomínio Cores da Lapa, no Centro do Rio, o síndico Paulo Badin mudou o processo de recebimento devido a esse aumento de volume. “Os porteiros foram treinados para usar um aplicativo. Os moradores fazem um cadastro e quando chega um produto, o funcionário lança no apartamento já com foto da embalagem. Automaticamente, o morador recebe a mensagem com a foto tanto no e-mail quanto no aplicativo. Para retirar, basta levar a carteirinha.”, explicou o síndico. Ele ainda destacou que esse novo procedimento agilizou muito o atendimento. “Durante a pandemia, só podíamos atender uma pessoa por vez e no modelo antigo iria gerar uma demora imensa. Além disso, ficou mais fácil pesquisar quem ainda não retirou uma encomenda e mandar mensagem para lembrar.
“Foi preciso definir um protocolo para cada tipo de portaria, criando cadastramento, uso de crachás e planilhas para controle. Além de treinar funcionários e síndicos para lidar com a questão da segurança e evitar assaltos.”, explica Luiz Barreto, da Estasa.